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Blog da Pina

Postagem: Pinacoteque-se: o corpo no museu, o museu no corpo

Publicado em 22 de dezembro de 2025

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: Artigos

Entre março e novembro de 2025 a Pina realizou os encontros do Grupo de Estudos de 120 anos, oferecido para pessoas pesquisadoras, artistas e entusiastas da história da instituição. Este post é uma adaptação de um dos ensaios realizados. 

“desenhe um mapa para perder-se” — Yoko Ono

Quem sou eu no museu? Como esse espaço recebe a minha presença? Que rastros deixamos um no outro? Quais as formas de mover o corpo em um lugar com diversas restrições como um museu? De que forma é possível experimentá-lo, e que percepções posso ter quando ativo todos os meus sentidos?

Estas são as perguntas que nortearam a elaboração deste trabalho, que lança um olhar curioso sobre formas possíveis de ocupação e visitação do edifício da Pina Luz. Este ensaio fotográfico e textual é também um desdobramento de minha pesquisa artística, que investiga a relação corpo-espaço como via de aprendizado e transformação, desenvolvido a partir de reflexões  sobre outras formas de visitar o museu para além da observação das obras de arte expostas, mas como um ato performático. Não é preciso muito, basta uma mudança de intenção e objetivo para desautomatizar uma ação rotineira e fazer dela uma ação artística.

Para dar início à proposta, soltei o adestramento comportamental inerente  a minha própria experiência de visitação a um museu – que hipervaloriza a visão e o cognitivo – e me abri a uma experiência multissensorial, ao implicar o meu corpo na visita, e dedicando àquele espaço e momento atenção e presença, estabelecendo com ele uma relação de troca. Nesse contexto, a arquitetura monumental do edifício Pina Luz apresenta-se bastante propícia, pois, além das salas expositivas (fechadas e formais), possui pátios e janelas internas, uma larga claraboia e passarelas suspensas que propiciam o maravilhamento e a fruição.

Considero que este trabalho aconteceu em duas etapas: a visita, propriamente dita, como ato performático, e a série de fotoperformance.

Escolhi um sábado, dia de entrada gratuita e, portanto, de público numeroso, para minha visita como ato performático. Desejei, com isso, também observar o comportamento das outras pessoas e ser afetada por suas presenças. Circulei pelas salas, pátios, corredores, passarelas e escadas. Demorei-me em bancos e em janelas. Enquanto as demais pessoas passeavam, eu vivia uma experiência de atravessamentos e transformações subjetivas. Com a atenção voltada às luzes, sombras, cores, texturas, sons, cheiros e sensações, fui criando intimidade com a arquitetura e me sentindo impelida a tatear suas superfícies e a observar nossa troca de vestígios – partículas, suor, temperaturas.

Retornei à Pina Luz em uma terça-feira, dia em que o museu fica fechado ao público. Nesse dia, com mais privacidade e menos interferências externas, foi realizada a série de fotoperformance, inspirada pelas percepções e aprendizados proporcionados pela visita anterior. As fotos deste ensaio revelam os encaixes e explorações de ocupação do espaço que meu corpo aceitou, a convite da arquitetura: deitar-me no chão, encostar o rosto na parede, no peitoril e no guarda-corpo; encaixar partes do meu corpo em reentrâncias que fui descobrindo nas paredes, atravessar vãos com dedo, mão e braço. Esses pequenos gestos de encaixe e experimentação aconteciam sempre em consonância com o objetivo principal de explorar formas de ocupação e visitação deste edifício.

Como forma de resumir as duas etapas da ação artística, as anotações que fiz no dia da visita, gravadas em áudio, bem como algumas das fotos desta série, foram compiladas em um vídeo, disponível no link ao final desse texto.

Assim, na celebração dos 120 anos da Pinacoteca de São Paulo, presenteio este museu com meu corpo, presença, intenção e registros dessa criação. Celebro com uma troca silenciosa, em que o que importa é o próprio processo, não o resultado – as perguntas e não as respostas – e na qual me disponibilizei a ele como obra: o corpo no museu, o museu no corpo. E, ao público que me lê, deixo o convite à experiência de substituir o estar NO museu pelo estar COM o museu.

Pinacoteque-se e boa viagem!


Agradecimentos: Clarissa Ximenes, Yasmin Trindade, e colegas do grupo de estudos pela partilha e generosidade. Gabriela Aidar, pela disponibilidade e conversa inspiradora. Piero Ragazzi, pelos registros fotográficos, e Gabriel Tye, pela edição de vídeo.

Sobre a autora convidada: 

Suzana Muricy Tobu é artista visual, performer e produtora cultural. Formada em Arquitetura e Urbanismo (Universidade Mackenzie, 2001) e pós-graduada em Arte e Educação (Faculdade Belas Artes, 2021). Desde 2022 é parceira freelancer na Pinacoteca de São Paulo, como coordenadora técnica do Pina Cursos, e em 2025 colabora com o BANANAL, como produtora executiva.

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Quem escreveu:

Autor da Postagem: Grupo de estudos À Luz de 120 anos

Grupo de pessoas pesquisadoras, artistas e entusiastas da história apresentou uma série de investigações sobre a trajetória da Pinacoteca, a partir de encontros presenciais e on-line, abertos ao público, entre abril e outubro de 2025. O grupo teve como foco a compreensão da evolução do patrimônio cultural da Pinacoteca, desde sua fundação até os dias atuais.

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