Blog da Pina
Postagem: O papel de um Assessor de Inclusão e Diversidade na Pinacoteca: entrevista com Camões Dias
Camões Dias é Assessor de Inclusão e Diversidade da Pinacoteca de São Paulo e Memorial da Resistência de São Paulo. Ele trabalha para promover a igualdade e a valorização da diversidade em ambientes culturais e sociais. É um cientista social do trabalho e pesquisador que se dedica ao estudo das relações sociais e culturais e se concentra em áreas como antropologia econômica, clínica histórico-cultural e esquizoanálise, buscando entender profundamente esses temas.
Qual o papel de um pessoa assessora de inclusão e diversidade em um museu? Como Camões trabalha para promover a diversidade e inclusão, tanto no quadro de artistas expositores da Pina como de visitantes? É sobre isso e muito mais que conversamos durante a entrevista a seguir!
Equipe Pina: Quais são as funções de um cientista social do trabalho/assessor de inclusão e diversidade em um museu?
Camões Dias: Dentre minhas funções está o desenvolvimento e implementação de políticas que promovam a diversidade e a inclusão dentro do museu. Isso inclui a criação de políticas de recrutamento e contratação que visam a diversidade de pessoas funcionárias, assim como políticas de acessibilidade que garantam que o museu seja acessível para todas as pessoas.
Também organizo e conduzo treinamentos para as pessoas funcionárias do museu, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre questões de diversidade, direitos humanos, igualdade e inclusão social. Estes treinamentos abordam temas como igualdade social, linguagem inclusiva, racismo, machismo etc.
Realizo avaliações regulares para monitorar a diversidade e a inclusão dentro do museu, utilizando métricas como a composição da equipe, a representação nas exposições e a participação da comunidade. Com base nessas avaliações, desenvolvo estratégias para abordar lacunas e promover uma cultura mais inclusiva.
Também conduzo pesquisas sobre direitos humanos, diversidade e inclusão social, procurando entender melhor as necessidades e experiências de diferentes grupos dentro da comunidade. Com base nessa pesquisa, desenvolvo recursos educacionais e materiais interpretativos para apoiar a missão do museu e promover uma maior compreensão e apreciação da diversidade.
Outro ponto é que trabalho em colaboração com outras instituições culturais, organizações comunitárias e grupos de interesse para promover a diversidade e a inclusão social em toda a comunidade. Isso inclui a participação em redes de profissionais de museus, a organização de eventos colaborativos e a criação de programas conjuntos que abordem questões de diversidade e equidade.
Além disso, parte das minhas funções envolve a construção de comunicação eficaz sobre os temas de direitos humanos, diversidade e inclusão. Isso inclui o desenvolvimento de materiais educativos, como folhetos informativos, que visam aumentar a conscientização e promover o diálogo em torno dessas questões. Trabalho para garantir que a mensagem seja clara, acessível e inspiradora, incentivando a reflexão e a ação dentro e fora do museu.
EP: Quais funções suas envolvem a programação de exposições e demais atividades do museu?
CD: Eu colaboro com os núcleos do museu e programação para garantir que as exposições e programas sejam inclusivos e representativos de diversas perspectivas e experiências. Isso envolve a consulta a grupos comunitários, a incorporação de narrativas de minorias históricas e a garantia de que as exposições sejam acessíveis a todos as pessoas visitantes.
Trabalho ativamente para envolver e colaborar com comunidades diversas, incluindo grupos minoritários e marginalizados. Isso pode incluir a realização de eventos comunitários, a criação de programas educacionais específicos para determinados grupos e o desenvolvimento de parcerias com organizações comunitárias.
Também me envolvo em atividades de advocacy e ativismo em nome dos direitos humanos, diversidade e inclusão social, tanto dentro do museu quanto na comunidade mais ampla. Isso pode incluir a defesa de políticas públicas e privadas que promovam a diversidade e a igualdade, e também o apoio a iniciativas comunitárias que buscam combater a discriminação e o preconceito.
EP: Como é o seu dia a dia?
CD: Uma parte crucial do meu trabalho envolve desenvolver políticas de direitos humanos, diversidade e inclusão social. Mas além disso também monitorar e garantir sua implementação eficaz em todos os aspectos da instituição. Isso significa estar atento às necessidades e preocupações de funcionárias(os), identificando as áreas onde podemos melhorar e implementando medidas corretivas quando necessário. É imprescindível o acompanhamento de indicadores de diversidade e inclusão para avaliar o progresso e identificar áreas que necessitam de maior atenção e intervenção.
Além disso, passo uma parte do meu tempo conduzindo treinamentos. Essas ações não são apenas uma oportunidade de transmitir conhecimento sobre direitos humanos, diversidade e inclusão social, mas também um espaço para promover diálogos abertos e construtivos.
Também dedico parte do meu tempo à pesquisa e utilizo elas para desenvolver materiais formativos e consultivos, que auxiliam na capacitação e orientação da equipe em relação às questões de diversidade e inclusão.
Outro aspecto fundamental do meu trabalho é a criação de comunicação interna. Desenvolvo materiais informativos e campanhas de conscientização que promovem uma cultura inclusiva na Pinacoteca. Essa comunicação é essencial para disseminar os valores de direitos humanos e diversidade entre os funcionários e manter todos engajados na promoção da igualdade.
Colaboro ativamente com outros núcleos da Pinacoteca, instituições culturais e movimentos populares.
Direitos humanos, diversidade e a inclusão social não podem ser alcançadas isoladamente; requerem esforços conjuntos e parcerias sólidas. Estou constantemente buscando oportunidades de colaboração e estabelecendo conexões com outras organizações que compartilham nossos valores e objetivos.
EP: Qual a importância do seu trabalho para pessoas que ainda não frequentam o museu?
CD: Minha atuação transcende a implementação de políticas e programas. Meu trabalho é profundamente enraizado na compreensão das complexidades sociais e culturais que permeiam não apenas o museu, mas também a comunidade que fazemos parte. Isso implica em um compromisso constante em buscar uma representação autêntica e inclusiva das diversas experiências, perspectivas e identidades presentes em nossa sociedade.
Ao garantir que o museu aprimore suas políticas inclusivas e representativas, se contribui para a criação de um ambiente acolhedor e respeitoso, onde todos as pessoas visitantes se sintam valorizados e reconhecidos. É essencial que cada indivíduo que entre pelas portas do museu se sinta parte integrante da narrativa cultural que ali se desenrola, independentemente de sua origem, raça, gênero, orientação sexual.
Eu busco não só transmitir conhecimento, mas também estimular a reflexão, o questionamento e, sobretudo, o respeito mútuo.
Para quem ainda não frequenta o museu, ao perceber que o museu está genuinamente comprometido com valores de inclusão e justiça social, pode sentir-se mais inclinados a visitá-lo, sabendo que vai encontrar um ambiente onde sua voz será ouvida e sua identidade respeitada.
Esse trabalho desempenha um papel fundamental em promover a diversidade e a igualdade em toda a sociedade. Ao tornar os museus espaços acolhedores, educativos e inspiradores para todas as pessoas, estou contribuindo para uma mudança positiva não apenas dentro das instituições culturais, mas também além de seus muros, impactando a comunidade de forma significativa.
EP: Quais medidas são adotadas pela Pina para ampliar tanto as exposições quanto o número de visitantes negros e LGBTQIA+?
CD: A Pinacoteca tem adotado diversas medidas para ampliar tanto as exposições quanto o número de pessoas visitantes negras, LGBTQIA+ e de outras populações minorias. Nosso Programa de Direitos Humanos, Diversidade e Inclusão social é amplo e abrange várias frentes de atuação, visando garantir uma representatividade mais equitativa em nossas exposições, acervo e em nosso público.
Uma das principais medidas adotadas é a capacitação e formação contínua da equipe de curadoria sobre diversidade e inclusão social.
Em termos de exposições, temos trabalhado ativamente para aumentar a representatividade de pessoas negras, LGBTQIA+ e outras minorias em nosso acervo e em nossas exposições temporárias. Isso envolve a aquisição de obras de artistas pertencentes a esses grupos, bem como parcerias com artistas e comunidades locais para promover uma variedade de perspectivas e vozes.
Além disso, implementamos programas educacionais e eventos específicos voltados para públicos diversos.
Para aumentar o número de visitantes negros, LGBTQIA+ e de outras populações minorizadas, também temos trabalhado na promoção de nossa programação de forma mais inclusiva e acessível. Isso inclui o desenvolvimento de estratégias de comunicação direcionadas a esses públicos.
EP: Quais são as iniciativas que existem para incentivar diversidade e inclusão no museu?
CD: As iniciativas em andamento para incentivar a diversidade e inclusão no museu demonstram um compromisso sólido com a promoção de um ambiente acolhedor e representativo para todos. Através do Programa, implementamos uma série de ações que abrangem desde a integração de novas pessoas funcionárias para temática direitos humanos, diversidade e inclusão social até a criação de políticas inclusivas e a sensibilização contínua da equipe e do público.
Desde a revisão para linguagem inclusiva da ficha de cadastro até a construção de políticas e diretrizes específicas para situações de assédio e discriminação, temos trabalhado para garantir que todas as etapas da experiência no museu sejam inclusivas e respeitosas.
Parcerias com instituições para contratação de grupos minorizados e programas de capacitação para funcionárias(os) e fornecedores também fazem parte de nossa estratégia para promover a diversidade e inclusão em todas as áreas de atuação.
O Núcleo Educativo da Pinacoteca também desempenha um papel crucial nesse esforço, com programas dedicados a promover o acesso qualificado aos bens culturais para grupos em situação de vulnerabilidade social, pessoas com deficiências sensoriais, físicas, intelectuais e transtornos mentais, e idosos.
EP: Quais são os próximos passos do museu quando falamos de diversidade e inclusão?
CD: Olhando para o futuro, temos uma série de próximos passos planejados para continuar avançando em nosso compromisso com a diversidade e inclusão. Isso inclui a realização de um censo de diversidade para artistas, criação de guias verbais para líderes, sensibilização interna sobre acessibilidade, implementação de políticas de acessibilidade interna e o lançamento de uma campanha institucional de combate à discriminação em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
Além disso, estamos planejando iniciativas como um clube de leitura e a criação de uma cartilha de diversidade para o público em geral.
Os reconhecimentos públicos que recebemos em 2023, como o Selo de Direitos Humanos e Diversidade e o Selo de Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo, são testemunhos do progresso que já fizemos e nos motivam a continuar nosso trabalho em prol de um museu mais inclusivo, diversificado e acolhedor.
Estamos comprometidos em construir um espaço onde todas as pessoas se sintam bem-vindas, representadas e respeitadas.
Quem escreveu:
Autor da Postagem: Pina
Equipe Pinacoteca