Quem caminha entre a Pina Luz e Pina Contemporânea certamente já notou as esculturas no Parque da Luz. Essas obras são do acervo da Pinacoteca que, hoje, mantém em exposição no Parque 29 peças. A conservação dessas obras é acompanhada pela equipe de Conservação e Restauro, responsável por realizar semanalmente a higienização e a vistoria de cada peça.
O que visitantes da Pina podem não saber é que, devido às condições ambientais não controladas e à constante exposição às intempéries, algumas esculturas necessitam de intervenções de restauro, que são conduzidas pela própria equipe do museu.
Em julho de 2025, duas esculturas da artista Liuba Wolf passaram por tratamento com o objetivo de restaurar a cor original e a camada de proteção. As obras Figura Heráldica (1976) e Vôo de Pássaro (1971), doadas pela artista em 2005, são feitas em bronze fundido e possuem uma pátina preta, característica marcante de suas esculturas.
As pátinas em esculturas de bronze são camadas que se formam naturalmente ou de maneira artificial sobre a superfície metálica, resultantes de processos químicos de oxidação e corrosão controlada. Essas camadas podem apresentar diferentes cores e tonalidades (como verdes, marrons, negras ou azuladas), dependendo das condições ambientais (umidade, poluição, sais, temperatura) ou dos produtos químicos aplicados intencionalmente pelo artista ou restaurador. Além de seu valor estético, a pátina desempenha um papel protetor, funcionando como uma barreira que reduz a velocidade de novas reações químicas e contribui para a preservação do bronze ao longo do tempo.
Figura 1 – base da escultura Voo de pássaro antes do restauro | Figura 2 – pés da escultura Figura Heráldica antes do restauro
A pátina de uma escultura de bronze se altera quando a peça é exposta ao ar livre porque o metal reage continuamente com os elementos presentes no ambiente. A umidade, o oxigênio, os sais dissolvidos na chuva e os poluentes atmosféricos aceleram processos químicos que modificam a composição e a cor da superfície metálica. Assim, tonalidades que inicialmente eram estáveis — como marrons ou negras — podem evoluir para verdes ou azuladas, típicas da formação de carbonatos e sulfatos de cobre. Esse processo é natural e contínuo, e altera o aspecto estético da escultura.
No caso das obras restauradas, Voo de Pássaro apresentava alterações mais evidentes na base horizontal, onde a superfície já exibia um tom esverdeado característico da ação de processos de oxidação típicos do bronze em contato prolongado com a umidade. Já a obra Figura Heráldica mostrava alterações concentradas nas áreas próximas aos pontos de apoio, compatíveis com a incidência de respingos de chuva que, ao se acumularem de forma recorrente, favoreceram a formação localizada de produtos de corrosão.
Os passos do restauro
O processo de restauro envolveu inicialmente a remoção dos resíduos da antiga camada de proteção, que já não apresentava eficácia adequada. Na sequência, foi aplicada, com o auxílio de calor controlado, uma solução química destinada à formação de óxidos pretos, com o objetivo de uniformizar a pátina original e restituir a leitura estética da escultura. Por fim, aplicou-se uma nova camada de proteção superficial, indispensável para a preservação do bronze em ambiente externo e que deverá ser renovada periodicamente a fim de garantir a manutenção adequada da obra.
Após o restauro, as obras foram reinstaladas no parque pela equipe de montagem da Pinacoteca, e as bases foram reformadas pela equipe de manutenção do museu.
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Quem escreveu:
Autor da Postagem: Pina
Equipe Pinacoteca