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Blog da Pina

Postagem: Poéticas negras no acervo a partir de Panmela Castro e Kika Carvalho

Publicado em 12 de dezembro de 2025

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: Por dentro da Pina

Entre março e novembro de 2025 a Pina realizou os encontros do Grupo de Estudos de 120 anos, oferecido para pessoas pesquisadoras, artistas e entusiastas da história da instituição. Este post é uma adaptação de um dos ensaios realizados. Vem ler!

No contexto da efeméride dos 120 anos da Pinacoteca, a presença de artistas negras no acervo da instituição foi um dos temas percorridos no Grupo de Estudos “À Luz dos 120 anos”.

Os retratos Djamila Ribeiro, da série Vigílias (2021), de Panmela Castro e Sem Título (2023) de Kika Carvalho são exemplos de poéticas nem sempre vistas nas coleções do museu. Essas obras representam, respectivamente, a intelectual Djamila Ribeiro e a artista Luana Vitra, ambas mulheres negras em lugares outros que não o do trabalho braçal, o do cuidado doméstico ou da objetificação do corpo negro.

Panmela Castro, Djamila Ribeiro, da série “Vigílias”, 2021. Foto: Isabella Matheus.

Na pintura de Panmela Castro, a postura da intelectual e escritora, com o tronco ereto, sentada em uma poltrona e com roupas comumente associadas a um traje “social” (ela está com um conjunto com um conjunto de calça e blazer com estampa “risca de giz”), demonstram seriedade e plenitude, remetem a uma posição social desejada e já alcançada. O uso dos óculos, o batom e o esmalte nas unhas contrastam com representações de corpos femininos no ambiente doméstico ou nas lavouras, lugares de trabalhos comumente atribuídos como naturais para mulheres negras.

Já na obra de Kika Carvalho, os tons claros dos trajes da artista representada dialogam com o sofá e o carpete também claros, em contraste com a pele negra. A figura está de pernas cruzadas com um dos punhos levemente apoiados na coxa, enquanto o outro braço se apoia no sofá, levando a mão até a cabeça.

Kika Carvalho, Sem título, 2023. Foto: Isabella Matheus.





Junto com expressões neutras, a imagem construída é de algo semelhante a um momento de descanso. Aqui, os pés descalços não são sinônimos de trabalho e o colar no pescoço, mantido embaixo da blusa, se assemelha a uma guia, adereço utilizado nas religiões afro-brasileiras e, portanto, remete a aspectos da espiritualidade, da intimidade e da crença da artista. Em outras palavras, a mulher representada exerce sua plena existência.

Nos dois retratos, mulheres negras, mulheres que não estão em posição de subserviência, mulheres que realizam trabalhos a partir da intelectualidade e do saber criativo. Mulheres negras sendo representadas por mulheres negras em um exercício de olhar, também, para de si ao olhar para o outro, em um exercício de olhar para a vida que brota de si e do outro.

Retomar os 120 anos da Pinacoteca de São Paulo a partir da presença dessas artistas em seu acervo e de obras como as que fazem parte desse texto significa reconhecer uma importante mudança na história da instituição, na forma como o seu acervo é concebido e é apresentado aos milhares de visitantes.

A disposição em incorporar poéticas antes marginalizadas produz uma revisão crítica do próprio cânone que a instituição ajudou a consolidar. Esses são apenas dois exemplos de um conjunto de novas aquisições e de novas leituras de mundo, de Brasil e de arte contemporânea brasileira. Mas, esse conjunto não representa uma linha de chegada e o olhar crítico para o acervo deve ser um processo institucional contínuo.

Veja uma breve análise do retrato de Djamila Ribeiro realizada pelo curador da Pina, Yuri Quevedo:

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Sobre a autora convidada: 

Bruna Melo Santos é mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e graduada em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Tem experiência na área de história e interdisciplinaridades, com atuação em pesquisas sobre preservação do patrimônio cultural de matriz africana, identidade e memória. Atualmente atua como assistente de organização de arquivos no Instituto Maurício Nogueira Lima, em Campinas, desenvolvendo experiências no campo da preservação do patrimônio documental e dos acervos pessoais de artistas. E-mail: bruna.94ms@gmail.com.

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Quem escreveu:

Autor da Postagem: Grupo de estudos À Luz de 120 anos

Grupo de pessoas pesquisadoras, artistas e entusiastas da história apresentou uma série de investigações sobre a trajetória da Pinacoteca, a partir de encontros presenciais e on-line, abertos ao público, entre abril e outubro de 2025. O grupo teve como foco a compreensão da evolução do patrimônio cultural da Pinacoteca, desde sua fundação até os dias atuais.

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