Nam June Paik (Seul, 1932 – Miami, 2006) foi um pioneiro em linguagens contemporâneas como a videoarte, a performance e diversas formas de transmissão e diálogo transcultural. Nascido na Coreia do Sul, viveu no Japão e na Alemanha, estabelecendo-se por muitos anos nos Estados Unidos. Sua trajetória foi marcada pelo envolvimento com grupos como o Fluxus, cujos membros vinham de diferentes partes do mundo, por colaborações com emissoras de TV e os mais inovadores desenvolvedores multimídia de sua época, além da participação em grandes exposições internacionais de arte.
Paik esteve no Brasil pela primeira vez em 1975, quando exibiu sua instalação TV Garden no Pavilhão dos Estados Unidos na 13ª Bienal de São Paulo. Desde então, apresentou seus trabalhos em outras edições do evento (1981 e 1990) e em festivais como o Videobrasil, criando diálogos e exercendo grande influência sobre pelo menos duas gerações de artistas e videomakers brasileiros até a virada do século XXI.
Esse legado é o ponto de partida para que a Pinacoteca de São Paulo e o Nam June Paik Art Center aprofundem suas pesquisas sobre as relações entre Brasil e Coreia do Sul nas artes visuais. No contexto do projeto Hyundai Translocal Series, essa parceria de dois anos entre instituições dos dois países terá início com um seminário gratuito e aberto ao público no sábado, 12 de abril, no auditório da Pinacoteca Luz, das 14h às 17h30. Em dois painéis temáticos, artistas e pesquisadores discutirão a memória da relação de Paik com o Brasil, seus principais princípios estéticos e geopolíticos e alguns dos impactos observáveis de sua obra na produção contemporânea.
No auge da globalização e da televisão via satélite, Paik concebeu uma poética que dialogava com as grandes estruturas de produção e difusão midiática, aproveitando seu amplo alcance enquanto estabelecia um discurso crítico. Infiltrando-se em espaços hegemônicos para fins experimentais e compartilhando conhecimento com diferentes especialistas, ele cultivou interseções entre arte, tecnologia e mídia de massa; imaginários urbanos e industriais e formas da natureza; repertórios estrangeiros e sotaques locais. Dois elementos constantes em sua obra, a música e a dança, possuem uma dimensão não verbal que pode ser utilizada para superar barreiras linguísticas e códigos culturais.
Por meio dessas e de outras estratégias, Paik construiu uma trajetória marcada por tentativas de encurtar distâncias e inspirar perspectivas de convivência, estabelecendo um Global Groove, como proclamava o título de sua colagem audiovisual lançada em 1973.
O trabalho de Nam June Paik ecoa no tempo e assume novos contornos diante das transformações contemporâneas. Da televisão à internet, da enunciação centralizada à disputa de diferentes pontos de vista no ambiente online, do projeto moderno de universalidade ao envolvimento com territórios e lugares de fala em uma crítica decolonial, os debates antecipados por seu pensamento tornam-se ainda mais urgentes. O seminário busca abordar alguns desses aspectos históricos e seus desdobramentos na atualidade, conforme detalhado no programa a seguir.
Programação
14h – Abertura | Jochen Volz e Ana Maria Maia (Diretor Geral e Curadora-Chefe da Pinacoteca de São Paulo)
14h20 – Mesa 1: Nam June Paik e o Brasil | Yoonseo Kim (Nam June Paik Art Center)
Artur Matuck (São Paulo, SP, Brasil, 1949) – Artista visual e professor universitário. Participou das Bienais de São Paulo de 1983, 1987, 1989 e 2002. Recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 1990 e realizou o Reflux Project, evento internacional de telecomunicações e arte, como artista visitante no Studio for Creative Inquiry da Carnegie Mellon University, nos EUA, em 1991. Desde 1983, leciona Multimídia e Intermídia no Departamento de Artes Visuais da Escola de Artes e Comunicação da USP.
Solange Farkas (Feira de Santana, Bahia, 1955. Vive em São Paulo) – Curadora e diretora da Associação Cultural Videobrasil. Criadora do Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, referência para a produção artística do Sul geopolítico (África, América Latina, Europa Oriental, Oriente Médio, partes da Ásia e Oceania). Atuou como curadora convidada em diversas bienais e festivais internacionais.
15h30 – Intervalo / Coffee Break
16h10 – Mesa 2: Os Efeitos de Nam June Paik na Arte Contemporânea
Biarritzzz (1994, Fortaleza. Vive e trabalha entre Recife e Salvador, Brasil) – Artista visual e mestranda em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia. Trabalha de forma antidisciplinar e transversal, explorando linguagens, códigos e mídias. Participa da 14ª Bienal do Mercosul e é artista convidada no projeto da Pinacoteca de São Paulo e do Nam June Paik Art Center para o Hyundai Translocal Series 2025/2026.
Jane Jin Kaisen (Jeju, Coreia do Sul, 1980. Vive em Copenhague, Dinamarca) – Artista visual e cineasta. Sua prática abrange instalações em vídeo, cinema experimental narrativo, instalação fotográfica, performance e texto. Seus trabalhos exploram memória, migração, fronteiras e tradução, entre outros temas. Representou a Coreia do Sul na 58ª Bienal de Veneza (2019) e é professora na Escola de Artes Midiáticas da Royal Danish Academy of Fine Arts. Artista convidada no projeto Hyundai Translocal Series 2025/2026.
Cho Kwonjin (Nam June Paik Art Center)
17h20 – Considerações Finais
Como participar
Participação por ordem de chegada. Capacidade do auditório: 130 pessoas.
Data: 2 de abril de 2025, das 14h às 17h30
Local: Auditório da Pina Luz
Endereço: Praça da Luz, 2, São Paulo – Brasil
Idioma: Tradução simultânea coreano-português e inglês
Acessibilidade: Recurso de interpretação em língua de sinais