Capacitação: Um museu entre muitos – perspectivas sobre a exposição do acervo da Pinacoteca

Aula 1 – Pinacoteca: Acervo – a aproximação como estratégia de questionamento; com Yuri Quevedo – 29/09/2022, 19h

A aula percorre a mostra de longa-duração Pinacoteca: Acervo, inaugurada em 2020, a partir de seu partido curatorial: a aproximação de trabalhos com técnicas, temas, propostas e tempos diversos. O primeiro dos objetivos é considerar algumas das questões levantadas por essa proximidade e refletir, a partir das obras, o lugar que o popular tem no acervo, entendendo o termo conforme algumas das acepções que teve ao longo do século XX. O segundo objetivo é apresentar o processo da curadoria que tem o acúmulo e a comparação como estratégias de mediação, e busca propor que trabalhos produzidos a partir de matrizes diferentes podem suscitar questões entre si.

Aula 2 – Quantas periferias cabem no centro? Carnaval e Madureira no “Carnaval em Madureira”, de Tarsila do Amaral; com Renato Menezes – 06/10/2022, 19h

O objetivo da aula será interrogar a pintura “Carnaval em Madureira”, não na perspectiva de sua autora, Tarsila do Amaral, que a realizou em 1924, mas do ponto de vista do espaço geográfico representado: o bairro de Madureira, conhecido pela alcunha de “capital do subúrbio”. Sobre a obra, que tematiza o encontro de Tarsila do Amaral com o coreto em forma de Torre Eiffel no “coração da zona norte carioca” paira a atmosfera que deu origem contemporaneamente as escolas de samba que se organizaram no bairro, em torno de figuras emblemáticas como Heitor dos Prazeres e Paulo da Portela. Essas relações servirão como ponto de partida para tensionar os binômios centro/periferia e local/global, refletir sobre a invenção da cultura popular pelos folcloristas e trazer à tona manifestações populares urbanas que escaparam às narrativas modernistas. Esse percurso, impulsionado pela obra de Tarsila, será atravessado por diversas obras do acervo da Pinacoteca de São Paulo.

Aula 3 – Terra, fogo e madeira: traços de imaginação material em José Bezerra, Chico Tabibuia e José Antonio da Silva; com Pollyana Quintella – 13/10/2022, 19h

A aula abordará a obra de três artistas populares, de diferentes estados brasileiros, a partir das relações que estabelecem entre materialidade e imaginação. José Bezerra é conhecido por construir uma obra escultórica que sustenta a tensão entre a identidade da matéria vegetal (o artista utiliza toras de umburana colhidas no seu entorno) e os gestos humanos que buscam conformá-la, dando a ver uma relação entre homem e natureza a um só tempo violenta e conciliadora. Chico Tabibuia, também dedicado às vocações da madeira, produziu um repertório de exus e sacis que tinham o papel de “capturar” a espiritualidade desses personagens na própria forma. Ambos, entre a lisura e a aspereza, a religiosidade e os bestiários, dedicaram-se a fazer emergir figuras que, nas suas concepções, já se insinuavam nos troncos, constituindo um léxico de forte apelo imaginativo. Por fim, a pintura de José Antonio da Silva foi capaz de testemunhar a implantação da agricultura na região noroeste do estado de São Paulo, a transformação da mata em lavoura e a conversão de um país agrário em urbano, circunscrevendo as questões da materialidade numa discussão mais ampla sobre território, paisagem e extrativismo. Nosso papel será o de aproximá-los e distanciá-los, a partir da análise de uma série de obras que pertencem ao acervo da Pinacoteca de São Paulo, em diálogo com outras coleções.