Na performance “Segredos Internos”, Ayrson Heráclito aborda mitologias africanas que aportaram no Brasil a partir da diáspora, do sequestro e da escravidão de diversos povos africanos, sobretudo a partir do século XIX.
A mostra “Yorùbáiano”, exibe seleção de obras que articulam culturas diversas, abarcando os mitos yorubanos ou nagôs e jejes, a um amálgama cultural de saberes ancestrais, ensinamentos, lendas, ritos e visões de mundo distintos que fazem parte das matrizes religiosas e culturais do candomblé.
Através dos trabalhos do artista, o público toma contato com lendas, “ìtàns” e “orikis”, narrativas tradicionais que seguem presentes nas ruas, procissões, romances e enredos de escolas de samba brasileiras, tomando contato com um mundo onde a natureza dos vários seres se complementa.
A CURADORIA
A curadoria de ”Yorùbàiano” e´de Amanda Bonan, Ana Maria Maia e Marcelo Campos e articula três materiais orgânicos que, segundo o artista, compõem histórica e simbolicamente o “corpo cultural diaspórico”. O açúcar rememora a ganância da monocultura canavieira escravocrata, evocando ao mesmo tempo a divindade ou orixá Exú, a quem é ritualmente oferecida a cachaça.
Ayrson também se vale da polissemia do azeite de dendê, ora simbolizando os fluidos vitais do corpo humano.
Sobre Ayrson Heráclito
Ayrson Heráclito (Macaúbas, Bahia, 1968) é professor universitário, historiador da arte, curador e ogã de Candomblé de matriz Jejê-Mahi. Sua trajetória artística inicia-se nos anos 1980 na Bahia. O artista em seus cerca de 35 anos de trajetória, consolida uma obra dedicada a ritos de cura e abordagens sobre o passado nefasto da escravização africana, que é constantemente sacudido e ritualisticamente eliminado pelo artista em banhos de ervas (“ìwá orí”) com águas frescas (“omi odò tó ń sàn”) ou no alimento oferecido às cabeças (“borí”), para que se mantenha o equilíbrio do corpo e do espírito.
Ingresso
Gratuito
Mais Informações
Em uma das três salas da mostra, está a instalação “Regresso à pintura baiana” (2002), que envolve o tingimento de uma maquete da Igreja do Rosário dos Pretos, e de uma parede do museu com dendê. A videoinstalação “O pintor e a paisagem” (2011), a instalação “Barrueco” (2003), além da série fotográfica “Sangue vegetal” (2005), entre outras instalações e fotografias completam a sala.
Na segunda sala expositiva estão a instalação “Segredos Internos” (1994-2010), documentação da performance “Transmutação da carne” (2000), além do registro da performance ritualística “Sacudimento” (2022), realizada pelo artista ao redor do edifício da Pina Estação, onde funcionou o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão responsável pela detenção de dissidentes políticos nos anos 1960 e 70.
A última sala apresenta a instalação fotográfica “Borí” (2008-2011), cuja performance foi adquirida em 2020 pela Pinacoteca por meio de seu programa de Patronos, com doze grandes fotografias do ritual de fazer a cabeça ou “borí”, representando cada um dos 12 orixás do xirê.
Serviço
Local: Pina Estação
Data: 02 abri 2022 — 22 ago 2022
Endereço: Largo General Osório, 66, Luz, São Paulo — SP.
Fotos
Imagens: Levi Fanan