Depois de quase 35 anos de sua primeira individual, realizada na Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, a artista Ana Maria Tavares volta para apresentar “No lugar mesmo: uma antologia de Ana Maria Tavares”. A mostra abre dia 19 de novembro e ocupa sete salas do primeiro andar do edifício da Luz, assim como os espaços do octógono, lobby e corredores do mesmo piso. Com patrocínio do Itaú, Companhia Paulista de Parcerias – CPP e Alexandre Birman e apoio de Abividro e Cebrace, a exposição reúne mais de 160 obras da mineira que, segundo a curadora Fernanda Pitta, rearticulam elementos fundamentais da produção da artista de 1982 até o momento presente.
Pensada a partir de uma obra da Ana Maria, pertencente ao acervo da Pinacoteca (Bico de Diamante, de 1990), a exposição será composta pela tradução de uma seleção significativa de trabalhos produzidos ao longo da sua trajetória e expostos sem se pautar pela cronologia. As obras sugerem uma reflexão sobre o desenvolvimento da pesquisa da artista e os diversos conceitos e problemáticas trazidos por ela em sua produção. Uma apresentação de trabalhos que lidam com a espacialidade e a superfície, o ornamento e a funcionalidade, a indústria e o artesanato, a palavra e a imagem; que se guiam por conceitos-chave presentes na produção de Ana Maria Tavares como suspensão, mobilidade, deslocamento, espelhamento, rotação e labirinto – concebidos a partir de uma perspectiva crítica em relação à arquitetura moderna. “A mostra versa sobre a forma como o trabalho da Ana Maria se instala, aqui e agora, no espaço da Pinacoteca. Rearticula o lugar e a história do museu e da obra, em um movimento retrospectivo que é de reelaboração e reinvenção de ambas as trajetórias”, explica Pitta.
Fazem parte da antologia outros importantes trabalhos como Exit, Parede Niemeyer e Tapetes pretos para paredes brancas, obra exposta na individual de 1982. Estarão presentes também algumas séries de objetos escultóricos e trabalhos que propõem um diálogo crítico com o peso da experiência moderna no Brasil, como Purus e Negros (2014). Além daqueles que traçam paralelo com a experiência contemporânea como Enigmas de uma Noite com Midnight Daydreams, Desviantes, Mantras e Dominós. O trabalho intitulado Parede Loos ativa os corredores com listras pretas nas paredes como uma espécie de fio de Ariadne. No octógono, será projetada uma obra site-specific com espelhos que cobrem todas as laterais do espaço, do chão ao teto.
“A exposição é também uma grande intervenção da artista na arquitetura e memória do museu”, completa Pitta. Vale lembrar que a mostra vem continuar o ciclo de mostras dedicadas à revisão de carreira de artistas que iniciaram suas trajetórias no cenário brasileiro na década de 1980. Nesse sentido, a Pinacoteca já apresentou exposições dedicadas a Leda Catunda, Jac Leirner, Nuno Ramos, Beatriz Milhazes e Nelson Félix.
A Pinacoteca prevê para o início de 2017 a publicação de catálogo bilíngue (português-inglês) que conterá ensaios, uma fortuna crítica com texto inédito, entrevista com a artista e vistas da exposição, além de depoimentos de artistas brasileiros contemporâneos contando como a obra de Ana Maria influenciou sua produção.
“No lugar mesmo: uma antologia de Ana Maria Tavares” permanece em cartaz até 10 de abril de 2017 no 1º andar da Pinacoteca – Praça da Luz, 2. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10 às 17h30 – com permanência até às 18h – e o ingresso custa R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 e adultos com mais de 60 anos não pagam. Aos sábados a entrada é gratuita para todos os visitantes. A Pinacoteca de São Paulo fica em frente à estação Luz do Metrô e da CPTM e também possui estacionamento gratuito. pinacoteca.org.br – (11) 3324-1000
Sobre Ana Maria Tavares
A formação inicial de Ana Tavares se deu na Escola de Belas Artes da UFMG e, posteriormente, já vivendo em São Paulo, na FAAP, sob orientação de Regina Silveira e Julio Plaza. Dois anos depois da mostra na Pinacoteca, a artista cursou mestrado na escola do Art Institute de Chicago, cidade onde residiu até 1986, realizando também lá exposições individuais. Em meados da década de 1990, as esculturas de Tavares ganharam escalas maiores, sempre fazendo referência a objetos do cotidiano, como escadas e catracas, bem como a ambientes como lounges de aeroporto. O uso frequente do aço inoxidável coloca seu trabalho na confluência entre arte e design nesse período. Em 2000 ela cursa seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP), onde é professora e pesquisadora até hoje. O diálogo com a arquitetura passa a ser outro aspecto importante de sua produção mais recente, quando incorpora também imagens em vídeo e passa a atuar mais fortemente em instalações de grande porte.