A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta exposição de Paula Rego (Portugal, Lisboa, 1935), uma das mais importantes artistas contemporâneas portuguesas. Serão exibidas 110 obras, entre pinturas, gravuras, desenhos e colagens, percorrendo os últimos 56 anos de sua carreira. Uma das características que definem a obra de Paula Rego é a construção de uma narrativa visual da condição humana, abordando temas como violência, jogo de poder, crueldade e a situação da mulher. Segundo Marco Livingstone, curador da mostra, “Paula produziu de maneira consistente uma obra que se comunica de forma poderosa e direta com todos que possuem um sentido de compaixão e justiça social”.
Apresentada em ordem cronológica, a mostra exibe todas as fases da produção de Paula Rego. Começa com as primeiras pinturas realizadas nos anos 1950, quando ela era uma jovem estudante de arte, e passa pelos desenhos, gravuras, até os pastéis em grandes formatos. As primeiras salas da mostra exibem obras como: Celebration (The Birthday Party) [Celebração (A festa de aniversário), 1953, e Life Painting (Pintura de modelo vivo), 1954. Entre os trabalhos realizados nos anos 1980 estão as pinturas em grandes dimensões como The Policeman’s Daughter (A filha do policial), The Maids (As criadas),The Family (A família) e The Cadet and His Sister (O cadete e sua irmã).
Nos anos 1990, Paula Rego começou a trabalhar com pastel criando imagens em grande formato (120 x 160 cm) a partir de modelos humanos. A primeira série com esta técnica foi intitulada Dog Woman (Mulher-cão),1994. “O pastel me trouxe um olhar diferente. Eu podia desenhar mais com ele e não tinha que usar o pincel, o que era maravilhoso”, afirma a artista.
Em 1997, Paula desenvolveu a série Abortion (O aborto) com a intenção de chamar a atenção das autoridades portuguesas para esta questão. São pastéis que retratam adolescentes e jovens mulheres praticando arriscados abortos clandestinos. No mesmo período, a literatura também serviu de inspiração para a artista que criou trabalhos como The Company of Women (Na companhia de mulheres ), 1997 e Angel (anjo), 1998, a partir do romance anti-clerical O crime do Padre Amaro de Eça de Queiroz. Em 2001, Paula ilustrou com gravuras o romance Jane Eyre de Charlotte Brontë.
Por último, são apresentados os trabalhos realizados nos anos 2000, fase em que Paula submergiu em sua história pessoal. Em Misericórdia I, 2001, a artista retrata o doloroso processo da morte de sua mãe. Nos trípi ticos The Pillowman (O homem-almofada), 2004, e The Fisherman (O pescador), 2005, Paula combina motivos literários com recordações das roupas vestidas por seu pai. Já em Human Cargo (Carga humana), 2007-2008, e na série Female Circumcision (Circuncisão feminina), 2009, Paula Rego foca na violência praticada contra mulheres, tráfico de pessoas e mutilação genital.
Sobre a artista
Nascida em Lisboa (1935), filha única de uma próspera família de classe media alta, Paula Rego cresceu durante o regime fascista de Salazar e, aos 16 anos, foi estudar na Inglaterra. Movida por uma obsessão pelo desenho, Paula estudou na Slade School of Art, Londres, entre 1952 e 1956. Nesse período conheceu o artista inglês Victor Willing, com quem se casou e teve três filhos. Em 1962 recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Gulbenkian, Portugal, que viabilizou a continuidade de seu trabalho.
Entre 1963 e 1975, Paula dividiu-se entre Londres e Portugal, estabelecendo-se definitivamente em Londres em 1976. Nesse mesmo período, seu marido sofreu um ataque cardíaco, o primeiro de uma série de problemas de saúde que o atormentou até 1988. Em 1966 a morte do pai e a doença do marido impulsionaram uma crise criativa que duraria até o final dos anos 1970. Na década de 80, Paula lecionou como professora visitante de pintura da Slade School of Art, em Londres. Em 2009 foi inaugurada a Casa das Histórias Paula Rego, um museu dedicado à sua obra em Cascais, Portugal.
Paula Rego já expôs em diversas mostras individuais e coletivas como retrospectivas na Tate Gallery Liverpool, Inglaterra, 1997, no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, (Espanha), no National Museum of Women in the Arts (Estados Unidos), 2007, e na Casa das Histórias Paula Rego, Portugal, 2009. No Brasil, participou da 10ª (1969) e13º (1975) edições da Bienal Internacional de São Paulo, representando Portugal, e na 18ª edição (1985) representando a Inglaterra. Sua obra integra importantes coleções como as da Fundação Gulbenkian, Lisboa, Portugal, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, Estados Unidos, Tate e Victoria & Albert Museum, ambas em Londres, Reino Unido.