Glossário
A
Abstração / Abstracionismo
Nas artes visuais, refere-se a produções artísticas não figurativas, que se afastam da ideia da arte como imitação da natureza e do mundo, ou seja, não buscam representar aspectos reconhecíveis da realidade concreta e objetiva. As obras de arte são criadas por meio de diferentes estratégias de articulação entre elementos visuais (volumes, cores, linhas etc.). O abstracionismo surgiu no início do século XX e deu origem a diferentes movimentos e tendências: alguns deles, como o abstracionismo informal, estão mais ligados à expressão pessoal do artista, seus sentimentos e emoções, e utilizam-se de formas mais livres; essa vertente também pode ser chamada de abstração orgânica, pois o artista pode utilizar formas mais arredondadas ou sinuosas presentes em contornos da natureza. Já outros movimentos, como o abstracionismo geométrico, possuem teor mais racionalista e articulam-se em torno do uso de aspectos da geometria, como linha, plano, ponto etc.
Academia
Designa genericamente as escolas de arte fundadas na Europa a partir do século XVII, que propunham o ensino formal de artes pautado em estilos artísticos orientados primordialmente por princípios neoclássicos, derivados da arte clássica greco-romana. No Brasil, as produções artísticas acadêmicas difundiram-se com a vinda da Missão Artística Francesa (1816), mas se estabeleceram efetivamente com o ensino da Academia Imperial de Belas Artes, fundada no Rio de Janeiro em 1826.
Academia Imperial de Belas Artes (AIBA)
Foi criada no Rio de Janeiro em 1826, oficializando o ensino formal de artes nos moldes das academias europeias. Contava com a presença de alguns artistas-professores que chegaram com a Missão Artística Francesa, em 1816, e compuseram a extinta Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, fundada por Dom João VI dentro de seus projetos de estruturação do Estado português no Brasil. Durante o segundo reinado, a AIBA estruturou diversas modalidades de cursos. Entre 1840 e 1884, realizou as Exposições Gerais de Belas Artes, que permitiam a participação inclusive de artistas de fora do meio acadêmico. Instituiu também o prêmio viagem ao exterior para que os estudantes pudessem ter contato com os mestres das academias europeias. A AIBA durou até o final do império, em 1889, quando teve seu nome modificado. Atualmente configura-se como uma unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro e denomina-se Escola de Belas Artes.
Académie Julian
Famosa escola de arte fundada em Paris pelo pintor francês Rodolphe Julian (1839-1907), em 1867. Frequentaram-na pintores como Pierre Bonnard, Maurice Denis, Henri Matisse, André Derain, Fernand Léger e Marcel Duchamp, entre outros. Funcionava como uma espécie de preparação para as provas de admissão na tradicional academia francesa, a Académie des Beaux-Arts (Escola de Belas Artes), e desde fins do século XIX acolheu entre seus estudantes artistas amadores, mulheres e estrangeiros. Por ela passaram diversos artistas brasileiros, como Rodolfo Amoedo, Benedito Calixto, João Batista da Costa, Emmanuel Zamor, Henrique Bernardelli, Belmiro de Almeida, Eduardo de Sá, Eliseu Visconti e, nas primeiras décadas do século XX, Julieta de França, Theodoro Braga, Nicolina Vaz de Assis, Fédora do Rego Monteiro, Lucílio de Albuquerque e sua esposa, Georgina de Albuquerque, Ismael Nery, Tarsila do Amaral e Vicente do Rego Monteiro, entre outros.
Acervo
Pode ser chamado também coleção. Refere-se a um conjunto de objetos, sejam naturais ou artificiais (livros, documentos, obras de arte, testemunhos, peças históricas, peças botânicas etc.), que são retirados temporária ou permanentemente das suas funções usuais, recebendo cuidados específicos e proteções especiais. Assim, os elementos que compõem um acervo ou coleção são selecionados, classificados, organizados e conservados por um indivíduo ou uma instituição, que usualmente pode exibi-los ao público.
Afrodescendente
Descendente de africanos.
Aglomerado subnormal
Expressão utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para classificar um conjunto constituído por 51 ou mais unidades habitacionais que não possuem título de propriedade e encontram-se em situação ilegal, apresentando, por exemplo, irregularidades nas vias de circulação, no tamanho e na forma dos lotes, ou, ainda, falta de acesso a serviços públicos essenciais (saneamento básico, energia elétrica e iluminação pública). São exemplos desse tipo de moradia irregular as favelas, vilas, grotas, baixadas, invasões, mocambos e palafitas, entre outros.
AI-5 (Ato Institucional nº 5)
Decreto que vigorou no Brasil de 13/12/1968 a 31/12/1978 e reforçou a chamada “linha dura” da ditadura militar, concedendo poder de exceção aos governantes para perseguirem e punirem arbitrariamente pessoas cuja postura era considerada contrária ao regime militar. Foi pelo AI5, por exemplo, que o regime decretou o fechamento do Congresso Nacional e a cassação de mandatos parlamentares, permitiu intervenções do governo federal nos Estados, proibiu reuniões de cunho político, suspendeu os direitos políticos de cidadãos sem justificativa e instaurou a censura prévia às diferentes formas de manifestação artística, entre outras medidas.
Albert Gleizes
(Paris, França, 1881 – Avignon, França, 1953)
Pintor e escritor francês. Trabalhou inicialmente no estúdio de design do pai. Entre
1901 e 1905, enquanto fazia o serviço militar, começou a pintar regularmente temas sociais. Expôs seus trabalhos em mostras francesas da época, como o Salão dos Artistas Independentes e o Salão de Outono. Em 1912, conheceu Pablo Picasso, importante artista cubista, conhecido pelos estudos de espacialidade de suas composições e pelas representações da natureza por meio de formas geométricas, como cones, esferas e cilindros. No mesmo ano, Gleizes publicou, em parceria com Jean Metzinger, o livro Du Cubisme, obra importante na fundamentação teórica do movimento cubista. Seus trabalhos tiveram aspectos cubistas até 1915, quando novamente servia ao exército; sua produção tornou-se então abstrata. A partir de 1918, os temas místicos e religiosos tomaram conta das propostas artísticas e literárias do artista.
Alberto da Veiga Guignard
(Rio de Janeiro, Brasil, 1896 – Belo Horizonte, Brasil, 1962) Pintor, desenhista, gravador, ilustrador e professor. Entre o final dos anos 1910 e a década seguinte, passou uma temporada de estudos na Europa. De volta ao Brasil, na década de 1930, atuou no Rio de Janeiro. Foi convidado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, em 1944, para criar uma escola de arte que posteriormente levaria o seu nome e hoje pertence ao Governo do Estado. Guignard é o criador de uma extensa obra, entre retratos, naturezas-mortas, motivos religiosos, paisagens e temas florais, com recorrente caráter decorativo e presença de aspectos da ordem do fantástico. O artista também se inspirou bastante nas cidades históricas mineiras, em especial Ouro Preto.
Alegoria
Utilizada frequentemente na literatura e nas artes visuais. Refere-se a representações de ideias, pensamentos ou qualidades na forma de figuras. Essas figuras geralmente são pinturas ou esculturas e representam personagens humanizados, identificáveis por seus atributos ou características que traduzem ideias e conceitos abstratos. Um exemplo de alegoria é a da justiça, personificada na imagem de uma mulher que segura uma balança e uma espada e tem uma venda sobre os olhos, simbolizando as qualidades esperadas da justiça, quais sejam, equilíbrio, ponderação, imparcialidade e a correta execução das penas.
Ambiguidade
Qualidade de algo que pode assumir mais de um sentido, algo impreciso, que admite várias interpretações, inclusive contraditórias.
André Lhote
(Bordeaux, França, 1885 – Paris, França, 1962)
Iniciou sua carreira artística como escultor e frequentou a Escola de Belas Artes em
Bordeaux, onde também começou a pintar. Em 1905, passa a dedicar-se apenas à pintura e aproxima-se do cubismo, um movimento artístico que surgia na época buscando novos modos de representação visual, utilizando-se, por exemplo, de formas e objetos produzidos por culturas distintas da europeia. Lhote inclusive adquiriu máscaras africanas, entre outras peças que utilizou em seus estudos artísticos.
Também foi muito influente como professor e criou a Academia André Lhote, em 1925, onde atuou até o fim da vida. Foi autor de diversos livros e escritos sobre arte publicados em catálogos.
Andy Warhol
(Pensilvânia, EUA, 1928 – Nova Iorque, EUA – 1987)
É um dos nomes mais conhecidos da arte pop, movimento que surgiu no fim dos anos 1950 e início dos 1960, na Inglaterra e nos Estados Unidos, e que se caracteriza pelo uso de imagens e referências da cultura de massas, como a TV e a publicidade. Andy Warhol talvez seja o artista que mais explorou os limites da arte pop. Sua produção artística sugere uma mistura de crítica e de encantamento com a cultura do entretenimento, em que tudo vira espetáculo. Ao usar meios originalmente comerciais de reprodução de imagens, como a serigrafia, Warhol transformava sua própria obra em produto de consumo de massas. Essas ideias estendiam-se ao seu ateliê, que se chamava Fábrica e era pintado de prateado, num estilo futurista, fazendo referência ao maquinário industrial. Utilizava de forma recorrente tanto imagens de celebridades, como Marilyn Monroe, quanto produtos de uso cotidiano, como as sopas Campbell, questionando a padronização do consumo e dos gostos das pessoas. Também sua própria figura pública foi constituída de modo bastante peculiar e foi explorada em seus trabalhos; o artista chegou a ter um programa de TV.
Anita Malfatti
(São Paulo, Brasil, 1896 – São Paulo, Brasil, 1964)
Pintora brasileira que realizou, em 1917, uma mostra individual em São Paulo, com obras produzidas durante seu período de estudos na Europa e nos Estados Unidos. Essas obras seguiam os princípios da arte moderna, buscando novas formas de expressão ao utilizar cores vivas, diferentes esquemas de organização espacial e uma variedade de figuras representadas, entre outras características que rompiam com as regras da pintura figurativa acadêmica realizada até então. A mostra gerou polêmicas e deu início ao debate sobre a modernidade nas artes, preparando o terreno para a realização da Semana de Arte Moderna de 1922. Anita foi contemplada com uma bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e estudou em Paris entre 1923 e 1928, quando passou a produzir obras com tendências acadêmicas, retomando os padrões clássicos de representação figurativa realista.
Antiarte
Ideal que buscava romper – ou expandir – as definições e funções da arte como produtora de objetos/mercadorias ou de um determinado sentido de beleza. Surgiu dentro do movimento dadaísta na Europa, em 1913, e foi retomado nos anos 1960 em discursos contra a sociedade de consumo, os valores materialistas burgueses e os sistemas institucionais e oficiais das artes.
Antilogia
Algo que rompe com a ideia de verdade única e absoluta e favorece um confronto de pensamentos, julgamentos e argumentos opostos que, embora contraditórios, possuem valores iguais e, portanto, contribuem para a formulação de novas verdades.
Antonio de Oliveira Salazar
(Portugal, 1889 – Portugal, 1970)
Político português e professor catedrático da Universidade de Coimbra. Assumiu o cargo de Ministro das Finanças em 1926 e, depois, entre 1928 e 1932. Instituiu o Estado Novo em Portugal, um regime político nacionalista e ditatorial, que impôs suas regras à população de maneira rígida, limitando as liberdades democráticas por meio da censura e da repressão. Tal regime, também conhecido por salazarismo, vigorou durante 41 anos, de 1933 a 1974, quando foi derrubado pela Revolução dos Cravos ou Revolução de Abril, que iniciou o processo de implantação do regime político democrático no país.
Antropofagia
Movimento artístico e literário brasileiro iniciado por Oswald de Andrade (1890 1954) com a publicação, em 1928, do “Manifesto Antropófago”, na Revista de Antropofagia. Foi pensado a partir da pintura intitulada Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral (1886 – 1973), que significa em tupi-guarani “homem que come gente”. O movimento propunha uma reelaboração do conceito da antropofagia – termo usado para nomear o ato ritual de consumir carne humana, realizado por pessoas das culturas ameríndias antigas – como representação do processo de formação da cultura brasileira, por meio da valorização de aspectos culturais locais e nativos associados com a ideia da “ingestão” de formas e tendências artísticas importadas, de modo a produzir algo genuinamente nacional.
Antroposofia
O termo, de origem grega, significa “conhecimento do ser humano”. Refere-se a uma corrente filosófica e espiritual fundada pelo pensador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) em 1912. Consiste em um método de conhecimento da natureza, da humanidade e do universo que amplia os métodos científicos convencionais, reconectando os campos da fé e da ciência. Teve desdobramentos em diversas áreas, como na medicina, na educação (com as Escolas Waldorf) e na agricultura, entre outras.
Apropriação
O termo é geralmente utilizado para designar a incorporação de objetos ou imagens não artísticos, ou de outras obras de arte, nos trabalhos de arte. Recurso utilizado comumente na arte contemporânea, refere-se ao ato de apoderar-se de objetos, imagens, conceitos, textos e ideias para a construção de uma obra arte. Tal ato está ligado à aproximação entre a arte e a vida cotidiana e muitas vezes pode impactar questões relacionadas à obra de arte, como a autoria, a originalidade e até a propriedade.
Art Déco
Termo de origem francesa, abreviação de arts décoratifs. Refere-se a um estilo decorativo que se disseminou nas artes plásticas, no design, no mobiliário, na decoração e na arquitetura, principalmente a partir da década de 1920. No padrão decorativo da art déco predominam linhas retas ou circulares estilizadas, formas geométricas e um design abstrato. São comuns motivos de flora, fauna e as formas femininas, bem como elementos formais africanos, astecas, chineses e egípcios.
Art Nouveau
Estilo que surgiu entre 1890 e 1910 na Europa e nos Estados Unidos e espalhou-se para outras localidades do mundo. Inspirado na natureza e nas linhas sinuosas e assimétricas de flores e animais, com forte presença da linha em arabescos e curvas, disseminou-se principalmente nas artes aplicadas: arquitetura, decoração, design, artes gráficas, mobiliário etc. A beleza era concebida como algo ao alcance de todos, pela articulação estreita entre arte e produção industrial em série. Materiais modernos como o ferro, o vidro e o cimento eram amplamente utilizados.
Arte Acadêmica
Refere-se a produções artísticas realizadas com base nas regras oficiais estabelecidas pelas Academias de Belas Artes. A partir do século XVII, foram fundadas na Europa escolas de arte que propunham um estilo artístico e uma forma de ensino orientados por princípios derivados da arte clássica. Tais princípios referiam-se, por exemplo, ao uso de cores e a escalas de medidas e proporções específicas que propiciam equilíbrio e harmonia visual entre os elementos que compõem as cenas e as figuras representadas; os temas mais recorrentes eram os mitológicos e históricos. A arte acadêmica se difundiu a partir da França para diversas localidades, ditando os critérios das produções artísticas locais. No Brasil, a vinda da Missão Artística Francesa em 1816 deu início ao processo de institucionalização do ensino da arte acadêmica, tendo como marco histórico a fundação da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, em 1826.
Arte Conceitual
Proposta artística surgida nos anos 1960, que dá maior importância às ideias e conceitos envolvidos na obra de arte e diminui a relevância de sua materialidade ou de seu processo de execução. O objeto artístico físico perde seu valor, e o que passa a ser importante é a ideia por trás da proposta do artista. Assim, não se exige que o projeto de uma obra seja executado pelas mãos do seu autor. O artista pode delegar a feitura do trabalho para alguém que tenha habilidade técnica. O termo foi usado pela primeira vez num texto de Henry Flynt, de 1961, em que o artista defende que os conceitos também podem ser considerados como matéria da arte.
Arte Concreta
Termo usado pela primeira vez em 1930, em Paris, no primeiro número da revista de mesmo nome (Art Concret). Em seus princípios, a arte concreta se afasta de qualquer representação subjetiva, simbólica ou até mesmo da natureza. A pintura é construída exclusivamente por meio de elementos plásticos, como planos e cores, que significam exatamente o que são e não exigem interpretações.
Arte Construtiva
Ver Construtivismo ou Arte construtiva.
Arte Contemporânea
Refere-se a produções artísticas que se tornam recorrentes da segunda metade do século XX até a atualidade e questionam os sentidos e definições de arte, artista e circuito artístico, entre outros conceitos que integram a área. As reflexões e processos que envolvem
a produção da arte se tornam focos de interesse dos artistas, que muitas vezes não se concentram em construir uma obra de arte material, mas, sim, preocupam-se com os conceitos e ideias que estão por trás do processo criativo e que, nesse momento, podem tornar-se a própria obra, mesmo sendo imateriais e não palpáveis. Assim, é problematizada a vinculação, usual até então, das obras de artes plásticas às categorias de pintura, escultura, desenho, gravura e arquitetura. Essas linguagens continuam a ser utilizadas pelos artistas, mas podem mesclar-se a novas formas de expressão artística que experimentam diferentes materiais e temas e inclusive se expandem para além do campo artístico e adentram outras áreas da vida e do saber, como a política, a antropologia, a biologia, a economia etc. Dessa forma, os artistas produzem obras de arte a partir de referenciais variados: sons, linguagem escrita, movimentos corporais, madeira, pedras, pigmentos, papeis, vidro, máquinas – como a máquina fotográfica, o computador ou a filmadora –, ações e comportamentos realizados pelo artista e intervenções na vida cotidiana de qualquer espaço social (um museu, praça, escola) que concretizam ideias do artista, entre outros.
Arte Moderna
Surge a partir de questionamentos acerca das noções de representação da realidade associadas à arte acadêmica. Na segunda metade do século XIX, esses questionamentos estimularam o pensamento sobre a construção de uma linguagem artística autônoma (propondo o rompimento com os temas clássicos, a superação da representação ilusionista de espaço etc.), originando diversos movimentos associados à Arte Moderna. Dentre algumas características das produções modernistas estão a representação da natureza com base em impressões pessoais e sensações visuais instantâneas (especialmente por conta da difusão da pintura ao ar livre), a ampliação dos temas das obras – que passam a incluir, além dos usuais assuntos históricos e mitológicos, aspectos da boemia (vida noturna), da vida urbana, cenas cotidianas da baixa burguesia e da industrialização – e o uso de novas tecnologias, entre outros.
Arte Neoclássica
O estilo artístico predominante no Ocidente da segunda metade do século XVIII até meados do XIX, período histórico que se segue à Revolução Francesa. Retoma referenciais culturais da antiguidade clássica greco-romana e se interessa por valores e técnicas racionais na elaboração das composições escultóricas, pictóricas e arquitetônicas. A pintura e a escultura neoclássicas resgatam o uso de temas mitológicos e do cotidiano por meio de representações naturalistas dos corpos, ou seja, imitações da natureza com forte apelo estético. As obras evidenciam um equilíbrio entre as formas e as figuras, representadas de modo ordenado e revelando grande simetria. A arquitetura também evidencia a harmonia das construções clássicas, sendo muito comum o uso das colunas gregas e dos arcos romanos.
Arte Pop
Movimento artístico surgido no fim dos anos 1950 e início da década seguinte na Inglaterra e nos Estados Unidos, caracterizado pelo uso das imagens e meios de comunicação da cultura de massas, como a TV e a publicidade. Os artistas buscam uma arte popular (pop) que se comunique diretamente com o público por meio de signos e símbolos retirados do imaginário presente na cultura de massas e na vida cotidiana – nas histórias em quadrinhos e embalagens de produtos industrializados, entre outros exemplos. A arte pop propunha que se admitisse a crise da arte que assolava o século XX e pretendia demonstrar com suas obras a massificação do consumo, que incluía também a cultura popular capitalista.
Arte Postal
Tendência artística coletiva, colaborativa e internacional difundida nos anos 1960, na qual os artistas se utilizavam do sistema de correspondência para trocar e colocar em circulação suas criações, atuando fora dos circuitos artísticos oficiais e fugindo da possível censura à suas obras, uma vez que muitas localidades do mundo viviam regimes políticos ditatoriais. Os próprios códigos de postagem – como selos, cartões postais, envelopes, carimbos etc. – eram incorporados ou subvertidos nesses trabalhos, que às vezes uniam diversas técnicas artísticas, como desenho, gravura, colagem, carimbo e xerografia sobre papel. Esta última se adequava perfeitamente ao movimento em razão da facilidade com que imagens e textos podiam ser reproduzidos via xerox.
Arte Povera
O termo “arte povera” é italiano e significa arte pobre. Refere-se a um movimento artístico italiano cuja origem remonta ao clima político dos anos 1960 e reforça, em particular, a oposição mundial à Guerra do Vietnã. Os artistas adeptos do movimento defendiam, por exemplo, que o ser humano era apenas “mais um elemento da natureza” e que a arte poderia ser executada com elementos mínimos e simples, evidenciando sua efemeridade. Para fazer suas obras, utilizavam materiais comuns, como terra, pedras, madeira, jornais e trapos, entre outros, a fim de enfatizar a necessidade de criar trabalhos que tivessem uma relação direta com o mundo, a natureza e a vida, criticando o sistema de consumo e a sociedade capitalista e industrial.
Arthur Bispo do Rosário
(Sergipe, Brasil 1909 – Rio de Janeiro, Brasil, 1989)
Em 1925, chegou ao Rio de Janeiro para trabalhar na Marinha Brasileira. Depois, empregou-se na companhia de eletricidade Light. Em 1938, foi a um mosteiro e descreveu uma visão mística que havia tido, apresentando-se como “aquele que veio julgar os vivos e os mortos”; o mosteiro o encaminhou ao Hospital dos Alienados na Praia Vermelha, onde foi diagnosticado como esquizofrênico-paranoico. De lá, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, um hospital psiquiátrico no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Durante cerca de vinte anos, Bispo viveu períodos no hospital psiquiátrico e outros fora dele, trabalhando em residências ou estabelecimentos comerciais. Em um desses momentos, foi contratado pela Clínica Pediátrica Amiu, onde morava, e pôde realizar seus primeiros trabalhos com materiais de uso cotidiano: uma série de maquetes e miniaturas de meios de transporte, junto a diversos bordados. Retornando para a Colônia, em 1964, continuou produzindo suas obras no local até sua morte, em 1989. Em 1982, foi convidado a expor pela primeira vez e expôs suas obras na mostra “Margem da Vida”, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, despertando o interesse dos críticos de arte. Recebeu outros convites para participar de exposições de arte, mas recusou-os. Não aceitava separar-se de suas obras e não se considerava artista, mas afirmava estar cumprindo a missão revelada em suas visões. Compôs um corpo de trabalho com cerca de mil obras, que, após sua morte, foram expostas em diversas mostras de arte nacionais e internacionais. Influenciou muitos artistas desde os anos 1960 até a atualidade. Com a morte de Bispo do Rosário, sua produção ficou abrigada no Museu Nise da Silveira, localizado dentro da Colônia, onde o artista viveu por quarenta e nove anos. Nos anos 2000, a instituição passou a ser chamada de Museu Bispo do Rosário.
Assemblage
Técnica artística que articula na composição da obra de arte objetos e/ou materiais diversos, em geral não convencionais ao meio artístico, e rompe com as técnicas tradicionais da pintura e da escultura. O termo “assemblage” é incorporado ao meio artístico por Jean Dubuffet (1901-1985), que na década de 1950 o utiliza para se referir a obras resultantes da reunião de todo tipo de material, seja natural ou industrial, por meio de colagem, sobreposição e outras técnicas.
Atributos
Refere-se a características ou símbolos usualmente utilizados para a identificação de determinados aspectos e qualidades que individualizam uma figura ou um tema representado.
Automatismo
Atividade literária ou artística exercida sob a influência exclusiva do subconsciente, sem o controle da razão. Essa proposta foi bastante enfatizada pelo Surrealismo, movimento artístico francês iniciado em 1924, que se aproximou dos estudos psicanalíticos e fez uso de imagens oníricas e subjetivas, propondo o automatismo psíquico como um meio de criação artística livre do controle racional ou de influências estéticas.
Axé
No candomblé, religião fundada pelos povos iorubás, trazidos à força como escravizados da África ao Brasil durante a Idade Moderna, o axé refere-se à energia essencial que move todos os seres, incluindo também a força sagrada dos orixás, deuses responsáveis por aspectos da natureza. Tal energia sagrada se revigora com as oferendas dos fiéis e os sacrifícios rituais.
Litografia
Técnica de gravura inventada por Alois Senefelder (1771-1834) no século XVIII, quando o dramaturgo bávaro procurava um meio barato de imprimir suas peças teatrais. Refere-se à gravura realizada a partir de uma matriz de pedra, geralmente de calcário. A matriz recebe desenhos ou marcas feitos por diversos materiais e processos;em seguida, ganha uma camada de tinta e é prensada (pressionada) sobre uma folha de papel, na qual se imprime a imagem. A litografia pode ser realizada a partir de técnicas diversas. Em uma delas, a matriz recebe desenhos feitos com lápis gorduroso ou com tinta oleosa e em seguida é mergulhada em ácido, o qual corrói apenas as regiões não protegidas pela gordura, resultando em um desenho em alto-relevo; posteriormente, a matriz recebe a tinta e é pressionada contra uma folha de papel, que ganha a impressão do desenho em alto-relevo.
B
Babalorixá
Sacerdote supremo de uma casa de candomblé ou de umbanda, religiões afro-brasileiras; na tradução literal da língua africana iorubá, significa “pai de santo”.
Bauhaus
Escola alemã de artes aplicadas, como a arquitetura e o design. Foi fundada em 1919 e fechada pelos nazistas em 1933. Pretendia formar o artista-artesão por meio de um programa que englobaria conteúdos de arte, arquitetura, artesanato, decoração e design, atendendo às necessidades da sociedade alemã do pós-Primeira Guerra Mundial, trabalhando por um lado com a produção em escala industrial e, por outro, com o ideal de difundir a arte moderna em todos os níveis sociais.
Bem cultural imaterial
O conjunto de bens culturais imateriais (também chamado de patrimônio cultural imaterial) pode ser entendido como as práticas, representações, expressões e conhecimentos – assim como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e os indivíduos reconhecem como fazendo parte de seu patrimônio cultural. Esse conceito incorpora, assim, música, dança, jogos, manifestações teatrais, festas e ritos considerados como de valor histórico e artístico.
Blaise Cendrars
(La Chaux-de-Fonds, Suíça, 1887 – Paris, França, 1961)
Pseudônimo de Frédéric Louis Sauser, novelista e poeta de origem suíça que se naturalizou francês. A principal fonte de inspiração de suas poesias são suas viagens reais ou imaginárias. Exerceu influência sobre as obras de artistas brasileiros do início do século XX, como Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.
Blinky Palermo
(Leipzig, Alemanha, 1943 – Malé, Ilhas Maldivas, 1977)
Conhecido por suas telas monocromáticas e suas obras feitas a partir da junção de tecidos de cores diversas costurados lado a lado e esticados em chassis (bases) de moldura. Palermo utilizava também outros materiais como alumínio, aço, madeira, papel e fórmica. O interesse pela relação espacial entre forma e cor afastou o artista das telas retangulares convencionais. Ele passou a produzir pinturas em formas como círculo, triângulo e cruz, acrescentando-lhes elementos que faziam o trabalho aproximar-se mais de uma escultura.
Burguesia
Classe social surgida na Europa no final da Idade Média, que engloba aqueles que exercem profissões liberais, cujos interesses em geral estão ligados às altas esferas econômicas e às classes dirigentes.
C
Calcografia
Gravura cuja matriz é feita de metal, ou chapa metálica. Essa matriz recebe desenhos ou marcas feitas por diversos materiais; em seguida, ganha uma camada de tinta e é prensada (pressionada) sobre uma folha de papel, na qual imprime a imagem. As marcas na matriz podem ocorrer por meio de diversos processos, tais como a gravura a buril, na qual a gravação no metal é feita com um instrumento de aço, o buril; a água-forte, na qual a chapa metálica é corroída por ácidos; a ponta-seca, um instrumento utilizado para riscar a chapa metálica, criando um desenho com os sulcos abertos na matriz; e outras técnicas, como a maneira negra e o verniz mole.
Câmara escura ou Câmera escura
Espécie de caixa cujas dimensões podem ser pequenas ou grandes, chegando ao tamanho de um quarto, que é vedada para não entrar luz, possuindo apenas um único orifício em uma das faces ou paredes, ao passo que a face oposta ao orifício recebe uma camada de tinta branca. A imagem de uma paisagem ou de um objeto colocado à frente do orifício, mas do lado de fora da caixa, é projetada, invertida, sobre a parede branca. Quanto menor o orifício, maior a nitidez dos detalhes da imagem. A câmara escura é um aparato óptico que serviu de base para a invenção da máquina fotográfica.
Candomblé
Religião praticada no Brasil e na África, surgiu com os povos iorubás, que foram escravizados e trazidos para as Américas; de origem animista, tem como base as culturas da região dos atuais Nigéria e Benim, em que sacerdotes e adeptos celebram, em cerimônias públicas e privadas, a convivência com as forças da natureza e os ancestrais.
Caráter onírico
Nas artes visuais, diz-se da obra que remete ao contexto de um sonho ou de algo imaginado, como algumas obras ligadas ao Surrealismo, movimento artístico surgido na Europa na década de 1920.
Casa 7
Ateliê montado na casa número 7 de uma vila na cidade de São Paulo por um grupo de jovens artistas reunidos por relações de amizade e interesses artísticos comuns. Formado por Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez, Paulo Monteiro, Rodrigo Andrade e Nuno Ramos, o grupo realizou seis exposições em conjunto, de 1982 a 1985, entre elas a da 18ª Bienal Internacional de São Paulo, de 1985, última mostra do grupo. Uma marca dos artistas do grupo era o trabalho com tintas industriais sobre grandes folhas de papel, explorando a expressividade dos gestos. A escolha dos materiais, de baixo custo, devia-se sobretudo a razões econômicas. A experiência em conjunto dos artistas do grupo foi marcante em suas trajetórias, e, depois de sua dissolução, cada artista seguiu seu próprio percurso.
Chassi
Estruturas feitas geralmente de madeira nas quais são esticados e fixados os tecidos das telas utilizadas pelos pintores como suportes de suas pinturas.
Cinema Novo
No final da década de 1950, um grupo de jovens cineastas brasileiros, interessados em produzir filmes de apelo popular e abordar questões sociais, propuseram-se renovar a linguagem cinematográfica brasileira. Realizaram filmes de baixo custo que discutiam temas ligados à realidade nacional, utilizando cenários e personagens simples, imagens sem muito movimento e diálogos extensos. Dentre os filmes produzidos, podem-se mencionar Cinco Vezes Favela (1962), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Os Cafajestes (1962).
Clube dos Artistas Modernos – CAM
Criado em 1932 por artistas como Flávio de Carvalho, Antonio Gomide, Carlos Prado e Di Cavalcanti, entre outros, funcionou como um espaço de encontro e de manifestações culturais, com grande vocação crítica e anárquica. Do conjunto de suas realizações percebe-se um forte engajamento político e social, simpatia pela experiência soviética e a crítica ao Estado e à Igreja brasileiros. A censura e as dificuldades financeiras levam ao encerramento de suas atividades, ao final de 1933.
Cobogó
Um elemento construtivo perfurado que lembra um tijolo com partes vasadas. Normalmente é feito de cerâmica ou de cimento. É utilizado na construção de paredes ou fachadas perfuradas, com a função de garantir ventilação ou luminosidade ou para separar o interior do exterior. Surgiu na arquitetura pernambucana e seu nome é formado pelas iniciais de seus criadores: Amadeu Oliveira Coimbra (Co), Ernest August Boeckmann (Bo) e Antônio de Góis (Go), tendo sido patenteado e industrializado a partir de 1929.
Coleção
Ver Acervo.
Coleção Nemirovsky
Coleção formada por José Nemirovsky, médico e empresário argentino radicado no Brasil, e por sua esposa, Paulina. Essa importante coleção é constituída por obras referenciais de Tarsila do Amaral, Brecheret, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Rego Monteiro, Ismael Nery, Goeldi, Livio Abramo, Guignard, Cícero Dias, Aldo Bonadei, Volpi, Milton Dacosta, Mira Schendel, Lygia Clark, Hélio Oiticica e Rubens Gerchman, entre outros artistas. Possui também gravuras de artistas europeus como Picasso, Braque,Chagall, Léger e Grosz.
Comodato
Contrato pelo qual é realizado um empréstimo com a obrigação de devolução em data combinada. No caso dos museus de arte, o comodato geralmente ocorre quando uma coleção particular de obras de arte é emprestada para que o museu possa exibir suas obras, tendo como contrapartida seu cuidado e conservação.
Composição
Nas artes visuais, o termo se refere ao modo como elementos visuais são organizados pelo artista na constituição da obra de arte.
Concretismo e o Movimento Concreto no Brasil
Os princípios do concretismo afastam da arte qualquer representação simbólica. A pintura é construída exclusivamente com elementos plásticos – planos e cores –, e não tem outra significação senão ela própria. A obra de arte não representa a realidade, mas evidencia estruturas, planos e conjuntos relacionados a formas de caráter geométrico, que falam por si mesmas e não remetem a outras interpretações. Na década de 1950 no Brasil o abstracionismo tem forte expressão artística, inspirado em movimentos artísticos que dialogam com as características estruturais e geométricas das formas e das obras de arte, como o Neoplasticismo (1917-1928) e do Construtivismo Russo (1914-1920), na Bauhaus (1919-1933) e influência do artista americano Max Bill (1908-1994). Assim, surgem as primeiras manifestações do Movimento Concreto em São Paulo e no Rio de Janeiro. O marco de seu início é a exposição do grupo Ruptura, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1952, e o Manifesto Ruptura, lançado no mesmo ano. No Rio de Janeiro, o Concretismo surge com a criação Grupo Frente, em 1954.
Construtivismo ou Arte Construtiva
As denominações “arte construtiva” e “construtivismo” referem-se a certas tendências da arte abstrata, surgidas no século XX, em que o objeto artístico passa a ser pensado como simples construção, como objeto desvinculado de qualquer tipo de representação simbólica ou expressiva. A obra de arte deve ser algo que baste por si, baseada somente nas relações formais e materiais de sua composição. Visualmente, as obras de arte construtivas tendem à geometrização e à uniformização, sendo constituídas por planos e cores, numa busca por proximidade com os objetos industriais. A princípio, construtivismo foi o nome de um movimento surgido na Rússia em 1915, com os artistas Vladimir Tatlin e Alexander Rodchenko, que refletiam sobre a função social da arte. Reverberações das expressões construtivistas podem ser encontradas em vários artistas e movimentos ao longo do século XX, como o suprematismo, o cubismo, o dadaísmo, o futurismo, a Bauhaus e o De Stijil. No Brasil, o construtivismo terá impacto principalmente nos movimentos concreto e neoconcreto das décadas de 1950 e 1960.
Construtivismo russo
Movimento artístico surgido na Rússia em 1915, com os artistas Vladimir Tatlin e Alexander Rodchenko, que produziam obras de tendência abstrata e geométrica. O uso da palavra “construtivismo” surge associado ao movimento da vanguarda russa num artigo do crítico N. Punin, de 1913, que comenta relevos tridimensionais de Vladimir Tatlin. Esse movimento se refere a expressões artísticas influenciadas pelo marxismo – corrente filosófica do socialismo que se desenvolveu a partir de teorias sobre economia, trabalho e luta de classes – e que, por conta disso, esteve intimamente ligado ao processo revolucionário iniciado na região atualmente conhecida por Rússia. O objeto artístico passa a ser pensado como simples construção, como objeto desvinculado de qualquer tipo de representação simbólica ou expressiva, baseando-se apenas nas relações formais e materiais de sua composição. Visualmente, as obras de arte construtivas tendem à geometrização e à uniformização. O movimento propunha a princípio que a arte deveria estar à serviço da sociedade, contribuindo para suprir as necessidades físicas, emocionais e intelectuais do povo, relacionando-se com a produção de máquinas, com a engenharia arquitetônica e com os meios gráficos e fotográficos de comunicação. A arte tornava-se instrumento de transformação social, participando da reconstrução do modo de vida e da consciência da população. O construtivismo russo estimulou outras correntes artísticas das primeiras décadas do século XX.
Construtivo
Referente ao ato de pensar a arte não como forma de representação, mas como construção. Ver Construtivismo ou Arte construtiva.
Contexto pós-colonial
Refere-se a uma perspectiva teórica e cultural que realiza uma revisão da colonização como parte de um processo global. Não é possível falar de uma teoria única pós-colonial, mas sim de uma série de estudos que trazem contribuições com orientações distintas nas mais variadas áreas de conhecimento (estudos culturais, crítica literária, ciências sociais, política, história, filosofia etc.) e têm em comum o fato de realizarem fortes críticas às narrativas centradas na Europa como modelo civilizatório universal.
Contracultura
Movimento que se populariza nos anos 1960, caracterizado pela contestação dos valores sociais e comportamentais vigentes. Refere-se de forma mais genérica a movimentos contrários aos pensamentos e comportamentos dominantes na cultura de uma determinada época.
Convenções acadêmicas
Regras e acordos adotados pelos artistas vinculados à arte acadêmica como normas de representação da realidade. Seus princípios são, de maneira geral, derivados da arte clássica, optando pelo realismo formal, que imita as figuras conforme determinadas regras, com forte apreço pelos temas mitológicos e motivos históricos, associados à clareza expressiva.
Cores caipiras
Termo utilizado pela artista Tarsila do Amaral (1886-1973), integrante do movimento modernista no Brasil, que buscava renovar as produções artísticas nacionais, exaltando especificidades locais brasileiras. Assim, a artista usa o termo “cores caipiras” para se referir às cores utilizadas nas casas ou produções artísticas concebidas em regiões como Minas Gerais – como o azul, o rosa violáceo, o amarelo vivo e o verde – , as quais passou a utilizar em suas pinturas.
Cosmogonia
Refere-se à explicação sobre a criação ou origem do universo de acordo com um grupo cultural específico. Também conhecida como cosmogênese ou cosmogenia.
Criação
Ato de dar a existência a algo. Ato ou efeito de criar, gerar, inventar ou produzir algo. Por exemplo, um artista em processo de criação pode idealizar uma obra de arte para depois realizar esse projeto, construindo um objeto concreto. Ao conjunto dessas atividades dá-se o nome de criação.
Crítico de arte
Trata-se do profissional que analisa e avalia o trabalho dos artistas. Por meio da observação de aspectos racionais e estéticos, o crítico de arte, além de contemplar, também estuda e julga as produções artísticas, estabelecendo relações entre elas e criando categorizações e reflexões teóricas.
Cubismo
Movimento artístico iniciado em 1907, em Paris. Tem como protagonistas os artistas Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963). Afasta-se da ideia de arte como imitação da realidade e da natureza; assim, suas obras recusam as técnicas que geram efeitos de ilusão, como a perspectiva. O cubismo substitui a representação do espaço tridimensional (por meio da perspectiva) pela decomposição em vários volumes das formas e dos ângulos de observação das figuras representadas. Assim, todos os ângulos de contemplação das figuras são mostrados de forma geometrizada e simultânea, sem distinções de profundidade.
Cultura
Refere-se a características da vida humana individual ou coletiva criadas em forma intelectual e material, abrangendo ideias, saberes, valores, técnicas etc. Assim, a cultura fornece condições e elementos para a sobrevivência da espécie humana e possibilita transformações na qualidade das relações sociais.
Cultura de massa
Refere-se ao conjunto das expressões culturais produzidas para atingir a maioria da população. Tem um objetivo essencialmente comercial, ou seja, de gerar produtos para o consumo. O termo “massa” se refere à uma grande quantidade de pessoas que os produtos provenientes dessa cultura conseguem abranger. Seguindo a lógica do capitalismo industrial e financeiro, a cultura de massa busca padronizar e homogeneizar os produtos, para que possam ser consumidos pela maioria das pessoas. Sua disseminação relaciona-se principalmente aos meios de comunicação de massa (rádio, televisão, jornais, revistas e, principalmente, a internet), ajudando no processo de homogeneização cultural dos consumidores.
Curadoria
Atividade desempenhada pelo curador, um profissional responsável pela pesquisa em torno dos objetos de arte reunidos numa coleção. Muitas vezes, a partir desse estudo inicial, o curador propõe exposições, definindo seus conteúdos, temas e público-alvo e elaborando a organização física das obras no espaço a ser ocupado pela mostra, entre outros aspectos. A curadoria também se refere ao processo desenvolvido em torno de uma coleção: seleção de objetos para compô-la, aquisição dessas peças, pesquisa e comunicação (por meio de publicações e realização de mostras).
D
Dadaísmo
Movimento artístico surgido em 1916 em Zurique, na Suíça, envolvendo as artes visuais, a poesia e a literatura. Teve como porta-voz Tristan Tzara (1896-1963) que, em 1918, escreveu o Manifesto Dada. Os dadaístas realizavam obras e ações artísticas que aparentemente não tinham lógica ou sentido, em atitudes irônicas que desafiavam os padrões artísticos burgueses da época, mais voltados à produção de pinturas e esculturas. As ações dadaístas relacionam-se a um contexto de pessimismo e desilusão com a civilização ocidental frente à Primeira Guerra Mundial. O acaso foi uma das estratégias mais utilizadas pelos artistas Dada, e mesmo essa palavra, que dá nome ao movimento, foi escolhida por eles por sua falta de sentido, ao abrirem um dicionário ao acaso.
Darwinismo social
Nome atribuído a várias pseudociências aplicadas ao estudo das sociedades e surgidas na América do Norte e na Europa Ocidental na segunda metade do século XIX, baseadas no livro A origem das espécies, de Charles Darwin (1809-1882). Trata-se de uma tentativa de aplicar o darwinismo aos seres humanos, colocando em hierarquias os diferentes grupos étnico-raciais, tendo os brancos no topo do desenvolvimento humano e os negros na base. Foi empregada como estratégia de dominação e de legitimação de práticas discriminatórias e racistas, pregando que os brancos eram naturalmente superiores aos demais grupos humanos.
Democracia Racial
Termo e conceito construído a partir da interpretação do livro Casa-grande & senzala (1933), de Gilberto Freyre (1900-1987), no qual se defendia que o racismo no Brasil seria mais ameno do que em outros países porque estaria amparado na miscigenação entre os diferentes povos que o formam. Essa ideia foi amplamente combatida por alguns intelectuais nas décadas de 1950 e 1960, entre os quais Florestan
Fernandes (1920-1995) e Octávio Ianni (1926-2004), e mesmo pelos movimentos negros brasileiros, como o MNU (Movimento Negro Unificado), surgido na década de 1970, que apontaram como o racismo no Brasil possui mecanismos de ação não explícitos, porém muito bem estruturados e enraizados em nossa história.
E
Elementos visuais
Os elementos que constituem a estrutura de uma obra visual, como, por exemplo, o ponto, a linha, a forma, a direção, o volume, a cor, o tom, a textura, a dimensão, a escala e o movimento.
Elite latifundiária
Parcela minoritária e privilegiada da população que detém grandes propriedades rurais e controle econômico da produção agropecuária. Em razão da importância da atividade agropecuária no Brasil desde a época colonial, essa elite acumulou também uma parcela significativa do poder político no país.
Émile Renard
(Sèvres, França, 1850 – Paris, França, 1930)
Pintor afiliado ao Realismo, influenciado pelos artistas Gustave Courbet e Jean-François Millet. Sua pintura tem como tema a vida cotidiana – camponeses trabalhando a terra, por exemplo – representada de maneira simples e objetiva.
Escrita e desenho automáticos
Métodos de criação artística e literária em que se procura evitar a expressão dos pensamentos conscientes do autor, deixando fluir as imagens e textos a partir do inconsciente, sem as censuras do pensamento racional.
Estêncil
Técnica de reprodução de imagens, também chamada de máscara, em que uma imagem é recortada em uma superfície bidimensional. O espaço vazio deixado pela imagem gera uma matriz; essa matriz é posicionada sobre um suporte e, sobre ela, é aplicada a tinta, que, ao vazar pelo espaço recortado, imprime a imagem no suporte.
Estética
Termo originário do grego, que significa percepção, sensação. Vertente da filosofia que se dedica a teorizar sobre a arte, o belo e a apreciação destes. A estética analisa as obras de arte e os processos de percepção e julgamento dos fenômenos artísticos e daquilo que é considerado belo.
Estilização
Refere-se a representações figurativas elaboradas com critérios idealizados, de modo a simplificar ou modificar as formas, contornos e proporções da imagem original. Isso resulta numa representação reconhecível, mas não realista.
Estranhamento
Espantar-se, admirar-se, surpreender-se. Achar diferente do que seria natural esperar-se.
Estrutura patriarcal
Conjunto de leis e valores sociais que concentram o poder nas figuras masculinas e, assim, submetem as mulheres aos homens.
Eva Hesse
(Hamburgo, Alemanha, 1936 – Nova Iorque, EUA, 1970)
Artista americana nascida na Alemanha, conhecida por seu trabalho pioneiro em materiais como o látex, a fibra de vidro e o plástico. Suas esculturas e instalações exploram a materialização de suas vivências, e sua obra como um todo tende a ser analisada à luz das lutas dolorosas de sua vida, incluindo a fuga dos nazistas, o divórcio de seus pais, o suicídio de sua mãe quando ela tinha dez anos, seu casamento fracassado e a morte de seu pai. Eva Hesse morreu precocemente aos 34 anos de idade, vítima de câncer no cérebro.
Exposição de curta / média / longa duração
Estas denominações são utilizadas com relação ao tempo em que uma determinada exposição permanece aberta ao público. As exposições de longa duração costumam durar alguns anos. No caso da Pinacoteca, a atual mostra de longa duração do acervo, aberta em 2020 e prevista para durar até 2025, procura oferecer ao público uma visão abrangente da coleção de arte brasileira, na qual estão expostas cerca de 1000 obras de mais de 400 artistas. As mostras de curta e média duração são organizadas para serem exibidas durante um tempo determinado, em geral entre um mês e um ano. É o que ocorre, por exemplo, quando uma instituição recebe uma exposição de outra instituição, como a retrospectiva de obras do escultor Henry Moore realizada em 2005, na Pinacoteca; ou quando um curador propõe uma exposição explorando um tema específico, como a exposição Mulheres Pintoras, realizada em 2004. A exposição Vistas do Brasil, com obras do acervo da Coleção Brasiliana, foi aberta em julho de 2003 e encerrada em fevereiro de 2005, sendo ela um bom exemplo de exposição de média duração.
Expressionismo
Tendência recorrente na história da arte, em que o artista tende a manifestar artisticamente de maneira subjetiva e dramática suas emoções. Na pintura, o impacto emocional é realçado pelo uso deliberado de cores fortes e pela distorção da forma, entre outras características. No século XX, esta tendência é visível em movimentos como o Expressionismo alemão (iniciado em 1905), o Expressionismo abstrato (EUA, final da década de 1940) e o Neo-expressionismo (Alemanha, meados da década de 1970).
F
FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado)
Instituição de ensino superior cuja fundação remonta à década de 1940, quando o Conde Armando Álvares Penteado pensava em constituir um centro cultural para articulação das artes em São Paulo. Na década de 1950, a instituição começou a oferecer cursos como o de formação para professores de desenho. O curso de Artes Visuais da FAAP é um dos mais tradicionais de São Paulo e do país, existindo desde a década de 1960.
Família Artística Paulista (FAP)
Grupo fundado em 1937 e dirigido por Rossi Osir (1890 – 1959) e Waldemar da Costa (1904 – 1982). Contou com a participação de diversos artistas, entre eles os integrantes do Grupo Santa Helena, outra associação de artistas formada em 1934. O escritor Mário de Andrade (1893 – 1945) os define como uma “escola paulista”, marcada por uma espécie de modernismo de tom moderado e situada num lugar intermediário entre as experimentações artísticas vinculadas à Semana de Arte Moderna de 1922 e a arte acadêmica, que ainda estava viva no ambiente artístico paulistano de então.
Fase Pau-Brasil
Uma fase da produção da artista Tarsila do Amaral (1886 – 1973), ocorrida entre 1924 e 1928, a partir da viagem que fez com outros artistas modernistas e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars (1887 – 1961), no período entre o carnaval e a semana santa, ao Rio de Janeiro e às cidades históricas de Minas Gerais. As obras desse período apresentam temas e cores encontrados nas produções artísticas e arquitetônicas dessas regiões, referenciadas na época como cultura popular, além da influência do cubismo na simplificação e geometrização das formas.
Fauvismo
O termo fauvismo origina-se da palavra francesa “fauves”, que significa “feras”. Ela foi utilizada pelo crítico Louis Vauxcelles (1870-1943) quando se referia à presença de cores intensas nas obras de alguns artistas participantes do Salão de Outono de 1905, em Paris. Assim, entre 1905 e 1907, o grupo de pintores liderado por Henri Matisse (1869-1954) dedicou-se à pesquisa em torno da simplificação das formas e de experimentações no uso de cores, especialmente as puras. Por meio de pinceladas fortes e nítidas, os “fauves” afastavam-se dos princípios acadêmicos de utilização de cores mescladas e jogos de luz e sombra com os claros-escuros, que davam a ilusão visual de verossimilhança. O fauvismo refere-se a uma fase nas obras dos artistas que se envolveram com tais experimentações, e não se constituiu enquanto escola artística com programas e manifestos bem definidos.
Feminismo
Movimento que teve início no século XIX com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos, por considerar que as mulheres são iguais aos homens e devem ter acesso às mesmas oportunidades. Propõe a igualdade entre os gêneros.
Feminismo negro
Movimento de mulheres atuantes na discussão e na luta antirracista e por igualdade de gêneros. Compreende que identidade de gênero, racismo, opressão de classes e sexismo estão ligados, e que as mulheres negras são uma das parcelas da população mais prejudicadas em nossa sociedade.
Fernand Léger
(Argentan, França, 1881 – Gif-sur-Yvette, França, 1955)
Pintor, escritor e professor de arte francês. Participou das primeiras manifestações cubistas, experimentando formas de representação da natureza por meio de figuras geométricas e curvilíneas e compondo na pintura todas as partes de um objeto no mesmo plano. Fundou sua própria academia em 1922.
Figuração
Refere-se à arte figurativa, ou seja, à representação de formas reconhecíveis derivadas da realidade, como objetos, pessoas, animais e paisagens, ainda que interpretadas e não necessariamente reproduzidas com fidelidade naturalista. Opõe-se à abstração.
Fluxus
Grupo criado por George Maciunas (1931 – 1978) em 1961, na Alemanha, que reuniu artistas de várias linguagens dispostos a fazer trabalhos experimentais e coletivos. Tinha como referência o dadaísmo e as ideias do artista Marcel Duchamp (1887 – 1968), muitas vezes associado à arte conceitual, que priorizava a ideia no lugar da construção material do objeto artístico, e aos ideais da antiarte, que questionavam definições tradicionais usuais no circuito artístico, como as de arte, artista, obra de arte etc.
Formas geométricas
Configuram-se a partir de referências matemáticas e lembram ou se remetem à geometria. São relacionadas ao racional e ao calculado, em oposição ao orgânico.
Formas orgânicas
Remetem às formas encontradas na natureza. Assim, apresentam um caráter mais expressivo, gestual e relacionado com a matéria que constitui um ser vivo ou natural, por oposição ao que é racional, calculado e mais relacionado ao geométrico.
Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB)
Um dos mais antigos e importantes fotoclubes brasileiros, localizado na cidade de São Paulo. Fundado em 1939, tem diversas atividades e ajudou a estabelecer a fotografia artística no Brasil, com reconhecimento inclusive de clubes do exterior. Foi responsável pelo surgimento da “Escola Paulista” de fotógrafos, que mudaram os conceitos de composição, estilo, recortes etc. vigentes até então na fotografia acadêmica e pictorialista ou associada ao fotojornalismo. O clube organizou durante anos o Salão Brasileiro de Arte Fotográfica, realizou duas vezes a Bienal Brasileira de Fotografia e promoveu outros clubes e salões digitais, como a Web Art Photos e a Tecnologia na Arte.
Futurismo
Movimento artístico do início do século XX que, nas artes visuais, procurava analisar e retratar ideias associadas ao contexto da industrialização e da ampliação dos desenvolvimentos tecnológicos nos meios de transporte e na urbanização do período – ideias como o dinamismo, a velocidade e o movimento, ou seja, o modo como a figura se locomove no espaço. Teve início a partir da publicação do manifesto futurista pelo poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876 – 1944).
G
Gênero / Gênero Artístico
Em sentido mais amplo, na área de artes, pode referir-se à classificação das produções artísticas conforme aspectos estilísticos, temáticos ou técnicos. A noção de gênero também é empregada para categorizar as produções artísticas associadas à arte acadêmica. Neste contexto, vinculados a regras de representação preestabelecidas, os gêneros são um dos parâmetros para a criação. As pinturas acadêmicas
eram classificadas nos seguintes gêneros: pintura mitológica, pintura histórica, retrato, paisagem e natureza-morta.
Geração 80
Termo surgido por ocasião da exposição Como vai você, Geração 80?, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), no Rio de Janeiro, em julho de 1984. A produção dos 123 artistas participantes, principalmente jovens do Rio de Janeiro e de São Paulo, embora heterogênea, trazia algumas tendências predominantes na arte dessa geração. Destacam-se um retorno à pintura, de viés expressionista e gestual, contendo forte carga emotiva, com produções de grandes dimensões e experimentos com materiais. Isso ocorreu após o predomínio da arte conceitual nos anos 1970, que se interessava mais pela ideia do artista do que pela construção material da obra de arte. A produção desses artistas da década de 1980 tornou-se um marco para a arte brasileira por refletir a postura dos agentes de criação face ao momento político, marcado pela euforia do reestabelecimento da democracia após a ditadura militar.
Gestalt
Uma das teorias da percepção. Segundo essa teoria, é só através da percepção da totalidade que se pode de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito. Afirma, assim que o todo é mais do que a soma das partes que o compõem.
Gravura
O termo refere-se a uma linguagem visual obtida por meios técnicos distintos daqueles do desenho e da pintura. Na gravura, a imagem a ser representada é gravada ou desenhada (por meio de ferramentas especiais que criam marcas, sulcos ou incisões) em uma superfície chamada matriz – que pode ser feita de vários materiais, como metal, madeira, pedra etc. Após a matriz receber as marcas da
imagem, uma camada de tinta é adicionada em determinados locais dela e essa matriz será prensada (pressionada) contra uma folha de papel. A folha receberá a impressão em tinta das formas do desenho que estava marcado na matriz. Classifica-se a gravura a partir do material do qual é feita a matriz – se é de madeira, por exemplo, a técnica será chamada de xilogravura; quando é feita em pedra, será denominada litogravura; e quando é feita em metal e são utilizados ácidos para fazer as marcas na superfície, é chamada de água forte. Existem ainda muitas outras técnicas de gravura.
Gregori Warchavchik
(Odessa, Ucrânia, 1896 – São Paulo, Brasil, 1972)
Foi introdutor no Brasil da arquitetura moderna, cujas características são baseadas em critérios racionais de conforto, economia de elementos na construção e funcionalidade. Ao casar-se em 1927 com Mina Klabin (1896 – 1969), irmã de Jenny, esposa de Lasar Segall, construiu sua residência, considerada a primeira casa moderna feita na América Latina.
Grotesco
Refere-se a algo considerado ridículo, que remete ao riso ou ao escárnio.
Grupo Grimm
Grupo de artistas pintores que, saídos da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), se reuniam na praia da Boa Viagem, em Niterói, para pintar paisagens ao ar livre sob a orientação do alemão Georg Grimm, entre os anos de 1884 e 1886. Grimm ministrou aulas na AIBA, mas seu contrato não foi renovado por conta de seus métodos de ensino – como pintar ao ar livre com pinceladas rápidas e marcantes, ao modo dos pintores impressionistas, por exemplo – não coincidirem com as práticas acadêmicas. O Grupo Grimm foi formado pelos artistas que tiveram aula com ele fora da academia, entre os quais Antônio Parreiras (1860 – 1937), Giovanni Battista Castagneto (1849 – 1900), Garcia y Vásquez (1859 – 1912), Hipólito Boaventura Caron (1862 1892), França Júnior (1838 – 1890) e Francisco Joaquim Gomes Ribeiro (1855 – 1900).
Grupo Opinião
Grupo de teatro do Rio de Janeiro, que concentrou o teatro de protesto e de resistência após o golpe civil-militar na década de 1960. Constituiu-se como centro de pesquisa e difusão da dramaturgia nacional e popular entre 1964 e 1983.
Guerra Fria
Conflito político e ideológico que teve início logo após a Segunda Guerra Mundial e terminou em torno de 1989, entre os Estados Unidos, com sua ideologia capitalista, e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), sob a ideologia comunista, que durante esse período disputaram a hegemonia política, econômica e militar no mundo.
H
Happening e performance
O termo happening (“acontecimento”) foi criado pelo artista estadunidense Allan Kaprow (1927-2006) no fim dos anos 1950. Refere-se a ações artísticas que podem envolver diferentes linguagens – advindas, por exemplo, das artes cênicas, da música ou da literatura – e se caracterizam em geral pela improvisação e por propostas que preveem a participação do público. A ação artística no happening possui estrutura flexível, sem um fim predeterminado. A performance apresenta algumas semelhanças com o happening, podendo ser considerada um desdobramento dele. Também envolve ações que podem misturar as diferentes linguagens artísticas, mas é caracterizada principalmente pelo uso que o artista faz do próprio corpo como meio para a ação artística, e nem sempre envolve a interação com o público. Enquanto o happening pode ser mais localizado em manifestações ocorridas entre os anos 1950 e 1960, a performance continua sendo uma forma artística bastante presente na arte contemporânea.
Henri Matisse
(Le Cateau-Cambrésis, França, 1869 – Nice, França, 1954)
Henri-Émile-Benoît Matisse foi um pintor, desenhista e escultor francês e principal expoente do fauvismo, movimento artístico criado em Paris, França, por volta de 1905.
Heteronormativa
Referente à heteronormatividade, o conceito de que a heterossexualidade é a única orientação sexual a ser entendida como normal e correta na sociedade; as outras orientações sexuais são, assim, compreendidas como desviantes em relação à norma, sendo, por consequência, marginalizadas.
Holística
Refere-se a holismo, palavra que se origina do grego holos, que significa “todo”. É uma abordagem que prioriza o entendimento integral dos fenômenos, em oposição aos procedimentos em que as partes de um todo são analisadas isoladamente.
Homoerotismo
Atração erótica entre indivíduos do mesmo sexo.
I
Ialorixá
Sacerdotisa suprema de uma casa de candomblé ou de umbanda, as religiões afro-brasileiras; na tradução literal da língua africana iorubá, significa “mãe de santo”.
Iconografia
Refere-se aos elementos visuais, como símbolos e temas, que compõem uma obra de arte figurativa. É também o nome dado à documentação visual que constitui ou complementa uma obra de referência escrita. O termo refere-se ainda a uma disciplina da História da Arte que estuda a origem, descrição e contextualização da representação visual das imagens, símbolos, motivos e atributos presentes em uma obra de arte.
Ideias marxistas
Refere-se aos pensamentos dos filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), que desenvolveram análises políticas, sociais e econômicas sobre o modo de produção capitalista e defenderam mudanças sociais, propondo o desenvolvimento do comunismo, sistema econômico e social baseado na propriedade coletiva dos meios de sustento da vida.
Identidade cultural
Refere-se a um conjunto de características culturais partilhadas por um grupo ou sociedade, que permeiam suas relações sociais, memórias coletivas, consciência histórica e construções linguísticas, religiosas, artísticas, técnicas e científicas, estando, portanto, ligadas à auto definição desse grupo ou sociedade.
Imaginário
O conjunto de símbolos e representações visuais características de uma determinada sociedade, um povo específico ou um grupo social.
Impressionismo
Movimento artístico surgido na Europa na segunda metade do século XIX. Os artistas impressionistas não concordavam com os modos de representação do real ditados pelas academias de belas artes, pois diziam que os acadêmicos faziam suas pinturas em ateliês sob um tipo de iluminação artificial distinto daquele encontrado na luz ao ar livre. A luz natural e o movimento tornaram-se importantes elementos da pintura impressionista, cujas telas eram geralmente elaboradas ao ar livre, com pinceladas soltas e rápidas, para que o pintor pudesse capturar melhor as nuances da natureza e as várias formas de iluminação. Esse tipo de pesquisa foi possibilitado pela produção industrial da tinta à óleo em tubo. As temáticas nobres, mitológicas ou históricas não são usuais nas obras impressionistas, que priorizam paisagens, naturezas-mortas ou cenas cotidianas.
Impressionista
Ver Impressionismo.
Instalação
Termo incorporado ao vocabulário das artes visuais na década de 1960 para designar uma manifestação artística contemporânea composta de elementos organizados em um ambiente. A instalação é uma construção ou uma montagem de materiais que pode atingir amplas proporções e inclusive permitir a entrada do espectador no espaço por ela constituído. Pode ter um caráter efêmero, mantendo-se construída apenas durante o tempo de uma exposição, ou pode ser desmontada e recriada em outro local.
Intervenção
No campo das artes, este termo não tem uma única definição e pode ser associado a múltiplos sentidos. Costuma designar o ato de interferir sobre uma dada situação ou objeto para promover alguma transformação ou reação, que pode ocorrer nos planos físico, intelectual ou sensorial. Os trabalhos de intervenção são muito variados; podem ser realizados no contexto urbano – com o graffiti, por exemplo, ou até com a criação de uma cena em uma praça – ou podem ser feitos sobre outras imagens, consistindo, nesse sentido, no acréscimo de elementos sobre uma determinada imagem ou objeto, inclusive sobre outra obra de arte.
Ismael Nery
(Pará, Brasil, 1900 – Rio de Janeiro, Brasil, 1934)
Pintor brasileiro cujo principal tema foi a figura humana. Frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Passou uma temporada na França, onde estudou na Academia Julien e teve contato com a arte moderna, que se propunha romper com os preceitos acadêmicos clássicos de imitação da natureza. Sua obra revela influências modernas, com pinceladas mais soltas e a presença de elementos emotivos ligados ao expressionismo. Posteriormente, também apresenta influências do surrealismo de Marc Chagall (1887 – 1985), com imagens de procedência psíquica e fantástica, e do cubismo de Pablo Picasso (1881 – 1973), com seus estudos de espacialidades geometrizadas e sem perspectiva.
J
Jackson Pollock
(Wyoming, EUA, 1912 – Nova Iorque, EUA, 1956)
O principal nome do expressionismo abstrato, movimento que teve seu epicentro em Nova York entre os anos 1940 e 1950, em que a abstração é associada à espontaneidade do gesto do artista sobre a tela, referindo-se a sua expressão pessoal. Ao longo de sua carreira, Pollock passou da criação de imagens figurativas e fragmentadas à total abstração. Desenvolveu uma técnica em que colocava suas telas no chão, andando ao seu redor, e, em vez de aplicar a tinta com o pincel encostando em sua superfície, a deixava escorrer e pingar, criando manchas que se sobrepunham em todo o espaço da composição.
Jean Baptiste Debret
(Paris, França, 1768 – Paris, França, 1848)
Pintor e desenhista francês, integrante da Missão Artística Francesa que chegou no Brasil em 1816. Lecionou pintura na Academia Imperial de Belas Artes. De volta à França em 1831, publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX. É desse artista a autoria da bandeira do Brasil imperial, que foi a bandeira nacional de 1822 a 1889.
Joseph Beuys
(Krefeld, Alemanha, 1921 – Düsseldorf, Alemanha, 1986)
Artista alemão que começou a estudar arte depois da Segunda Guerra Mundial, após ter atuado como piloto da Força Aérea Alemã. Sua produção artística incluiu happenings, performances e instalações e sua forma de encarar a arte pode ser vista como um exemplo da ideia da não separação entre arte e vida. Acreditava que a arte deve ter um papel ativo na sociedade e que qualquer pessoa pode realizá-la. Destaca-se em sua obra a pesquisa de diferentes materiais, como feltro e gordura, utilizados em várias obras. É considerado um dos artistas mais influentes da segunda metade do século XX.
Joseph-Antoine Bouvard
(Saint-Jean-de-Bournay, França, 1840 – Marly-le-Roi, França, 1920)
Arquiteto e urbanista francês que elaborou o plano de remodelação do centro da cidade de São Paulo no início do século XX. Foi diretor do Serviço de Passeios e Jardins de Paris.
Justaposição
Ato de colocar um objeto ou imagem próximo ou sobreposto a outro.
K
Keith Haring
(Pensilvânia, EUA, 1958 – Nova Iorque, EUA, 1990)
Artista norte americano, estudou design gráfico e foi bastante influenciado pelo contexto em que vivia: a Nova Iorque dos anos 1980, seus grafites e a cultura pop, com forte referência às histórias em quadrinhos. Sua obra provocou grandes reflexões em torno do ativismo social, de temas homoeróticos e da cena da prostituição na cidade, influenciando inúmeros artistas em todo o mundo e difundindo a conscientização sobre a AIDS.
L
Land Art
Também conhecida como Earth Art ou Earthwork, é um tipo de arte em que o terreno natural, em vez de fornecer o ambiente para a obra de arte, é ele próprio trabalhado de modo a compor a obra. A Land Art surgiu em finais da década de 1960, em parte como consequência de uma insatisfação crescente diante da deliberada monotonia cultural gerada pelas formas simples do minimalismo, em parte como expressão de um desencanto com a sofisticada tecnologia da cultura industrial, bem como em razão do crescente interesse por questões ligadas à ecologia. É um tipo de arte que, por suas características, não pode ser exposta em museus ou galerias (a não ser por meio de seu registro em fotografia, vídeo etc.).
Lasar Segall
(Vilna, Lituânia, 1889 – São Paulo, Brasil, 1957)
Pintor de origem lituana vinculado ao expressionismo alemão, que valorizava as emoções e os aspectos subjetivos nas representações, com pinceladas mais soltas e maior liberdade no uso de cores. Em 1913, visitou o Brasil e expôs suas obras. Naturalizou-se brasileiro em 1925, após casar-se com Jenny Klabin (1899 – 1967). É considerado um dos pioneiros da arte moderna no Brasil. Grande parte de suas obras se encontra no museu que leva seu nome, sediado na cidade de São Paulo.
Leda Catunda
(São Paulo, Brasil, 1961)
Formada em Artes Plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) em 1984. Sua pesquisa se concentra em temas como a banalização das imagens, o estereótipo visual, a autoria não identificável. Sua busca por novos suportes e materiais é constante, e utiliza-se em suas pinturas de peças de vestuário e acessórios domésticos, como tapetes, toalhas, meias, casacos e capas de almofadas.
LGBTQIA+
Sigla que procura englobar a diversidade sexual, dando visibilidade às diferentes identidades de gênero e orientações sexuais e afetivas. A letra L refere-se às lésbicas. G é a letra dos gays. B refere-se às pessoas bissexuais. T designa os travestis, transexuais ou transgêneros, pessoas cuja identidade de gênero difere da que lhes foi atribuída ao nascer. Q designa queer e se refere à não identificação com as expectativas de gênero estabelecidas socialmente. Trata-se de uma categoria ampla, que abarca diferentes identidades da comunidade não heterossexual ou que não se identifica com a identidade de gênero atribuída no nascimento, determinada pelo sexo biológico. Em inglês, queer significa “estranho”, “excêntrico”, palavra usada originalmente de forma discriminatória, mas atualmente ressignificada pela comunidade LGBTQIA+. A letra I refere-se aos intersexos, pessoas que nascem com características biológicas que não se enquadram nas categorias típicas do sexo feminino ou masculino. A é a letra que representa os assexuados, pessoas que não sentem atração sexual por qualquer pessoa. E o sinal + é acrescentado à sigla para se referir às outras orientações sexuais, expressões e identidades de gênero.
Linguagem visual
Diz respeito à comunicação que ocorre por meio de imagens. As imagens são frutos de uma mistura de pensamentos, valores, ideais e emoções e são construídas nos termos da linguagem visual por meio de linhas, cores, proporções, texturas e ritmos, entre outros aspectos.
Lygia Clark
(Minas Gerais, Brasil, 1920 – Rio de Janeiro, Brasil,1988)
Artista brasileira contemporânea, que também atuou como professora. Ao longo da sua trajetória, passou a intitular-se “não artista”, mas sim “propositora”. Seu processo de trabalho teve início de forma tradicional, passando pela pintura e a escultura, mas seguiu em direção à proposição de obras que se desdobravam como acontecimentos estéticos e terapêuticos voltados ao público e à exploração sensorial, com maior interesse na participação das pessoas do que na construção do objeto artístico.
M
Manifesto
No final do século XIX e na primeira metade do século XX, no contexto dos artistas modernos, que rompem com os padrões temáticos e estilísticos das academias, geralmente articulados em grupos, os manifestos são textos que têm como objetivo expor e divulgar as ideias que congregam o grupo; muitas vezes assumem um tom panfletário.
Manifesto Antropófago
Oswald de Andrade (1890 – 1954) escreveu este manifesto em 1928, inspirado pela pintura Abaporu, de Tarsila do Amaral (1886 – 1973). O manifesto trata o tema da antropofagia – prática da antiguidade ameríndia relacionada ao consumo ritual de carne humana – de forma metafórica, associando-a poeticamente à relação estabelecida pela cultura brasileira com as demais culturas, em especial a europeia, e propondo uma revisão da dependência cultural do Brasil. O tema desse manifesto continua instigante até a atualidade e inclusive foi abordado na XXIV Bienal de São Paulo, realizada em 1998.
Manifesto Pau-Brasil
O Manifesto da Poesia Pau-Brasil, redigido por Oswald de Andrade (1890 – 1954), foi publicado inicialmente no jornal Correio da Manhã, em 1924. Em 1925 foi apresentado como abertura de seu livro de poesias Pau-Brasil. Defende novos princípios para a poesia brasileira, de modo a resgatar a cultura local por meio da fusão de elementos da cultura popular e da erudita, incluindo o registro de elementos da oralidade e temas do cotidiano.
Marc Chagall
(Liozna, Bielorrússia, 1887 – Saint-Paul-de-Vence, França, 1985)
Artista de origem russa que desenvolveu sua formação artística entre São Petersburgo e Paris nas primeiras décadas do século XX. Fez carreira trabalhando em escolas de arte, ilustrou uma edição das fábulas de Jean de La Fontaine (1621 – 1695) e desenhou figurinos e cenários para balés de Piotr Ilitch Tchaikovski (1840 – 1893). Em suas obras é possível reconhecer as lembranças de sua terra natal e temas como nascimento, casamento e morte. Suas produções possuem fortes marcas do surrealismo, com elementos e cenas que remetem à ordem do fantástico e do sonho.
Marcel Duchamp
(Blainville-Crevon, França, 1887 – Neuilly-sur-Seine, França, 1968)
Artista francês cuja obra se caracteriza pelo questionamento das convenções artísticas e pelo seu teor conceitual, muitas vezes baseado em jogos de linguagem. Duchamp partia do princípio de que é arte o que o artista define como tal, independentemente de regras, meios técnicos ou materiais específicos. Sua atitude radical frente ao pensamento artístico tradicional fez dele um dos artistas mais influentes nas transformações da arte ao longo do século XX. Duchamp realizou seu primeiro ready-made (palavra que pode ser traduzida como “já pronto”), a Roda de Bicicleta, em 1913. O primeiro a ser exposto por ele publicamente foi Fonte, de 1917, em que se apropriou de um urinol masculino e o assinou com um pseudônimo.
Marchand
Termo de origem francesa que significa “comerciante”. Refere-se ao profissional que compra, vende e faz intermediação comercial de obras de arte, promovendo a produção dos artistas plásticos e assessorando os compradores em potencial.
Mário de Andrade
(São Paulo, Brasil, 1893 – São Paulo, Brasil, 1945)
Escritor, musicólogo, professor e defensor do patrimônio artístico e cultural brasileiro. Teórico e articulador do movimento modernista e da Semana de Arte Moderna de 1922, que propunham a renovação das artes e da cultura brasileiras, enfatizando as especificidades locais.
Mediação
O conceito de mediação vem do campo jurídico, no qual significa uma ação que se opera entre as partes numa situação de conflito. No campo da educação, o temo mediação aponta para uma ação consciente que atua como um elo entre o sujeito, individual e único, o coletivo e o objeto analisado (texto, imagem ou elemento). Constitui um processo de comunicação que possibilita a exposição e apreensão de diversos pontos de vista, experiências e percepções da realidade, evidenciando a variedade de estilos de vida e dos sujeitos presentes na sociedade. A mediação permite o estabelecimento de relações entre os atores de uma coletividade, e também entre eles e o mundo no qual estão inseridos.
Menos-valia
Quando usado em economia, o termo refere-se à diferença encontrada quando o valor de venda é menor que o valor contábil líquido de um bem. Mas também pode significar a baixa valorização ou o pouco mérito atribuídos a uma pessoa pelo meio em que vive ou por si própria.
Mestiçagem/Miscigenação
A miscigenação é a mistura biológica entre pessoas de grupos étnico-raciais distintos, como, por exemplo, mulher negra e homem branco, homem negro e mulher indígena, mulher branca e homem indígena e assim por diante.
Metafísica
Palavra de origem grega que pode ser traduzida como “para além da física”. Ou seja, a metafísica refere-se a questões filosóficas imateriais, que estão além da experiência concreta e empírica. É um ramo da filosofia que busca investigar e compreender a essência das coisas, daquilo que as faz serem como são, mas a palavra também é usada em contextos de misticismo e esoterismo.
Mimeografado
Reproduzido num mimeógrafo, equipamento de reprodução em grande escala de imagens e textos em papel. O processo para a realização de cópias mimeografadas requer o trabalho manual de se copiar o texto ou a imagem original sobre a matriz (uma folha de papel estêncil) e também de girar manualmente uma manivela para se imprimirem as cópias.
Minimalismo
O termo se refere a movimentos artísticos, culturais e científicos ocorridos em diferentes momentos do século XX e que focaram no uso de poucos elementos fundamentais como base de expressão. O minimalismo nas artes plásticas buscou, pela redução formal e produção de objetos em série, transmitir ao observador uma percepção da essência do objeto.
Missão Artística Francesa
Também intitulada “Colônia Lebreton”, pois foi organizada pelo intelectual e político francês Joachim Lebreton (1760-1819), incluiu os pintores Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) e Jean-Baptiste Debret (1768-1848), o escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850) e o gravador de medalhas Charles-Simon Pradier (1786-1843), entre outros. Esse grupo de artistas acadêmicos, arquitetos e artífices chegou ao Brasil em 1816 para instituir o ensino de artes por solicitação do monarca D. João VI, instalado no Rio de Janeiro e desejoso por renovar a cena cultural local. A atuação desses artistas resultaria na fundação da Academia Imperial de Belas Artes, em 1826, que disseminou o estilo neoclássico pelo país, resgatando as formas de representação realista e ilusionista de referenciais clássicos europeus, com o uso, por exemplo, da perspectiva e dos jogos de luz e sombra do claro-escuro, que criavam ilusões de profundidade nas pinturas.
Mito das três raças
Concepção desenvolvida principalmente a partir do fim do século XIX, baseada na ideia de que a formação brasileira se deu pela relação entre três “raças”: a europeia, a indígena e a africana. Essa ideia se disseminou em teorias de diferentes autores e também no senso comum, mas foi com o tempo desacreditada, sendo considerada um “mito” por causa de alguns pontos críticos: o conceito de “raça”, como compreendido anteriormente, hoje é considerado equivocado; criou-se uma ideia de democracia racial no país que se mostrou falsa, pois a colonização provocou relações desequilibradas, e ainda hoje indivíduos de origem indígena e africana sofrem preconceito e discriminação em nossa sociedade; a concepção generaliza os povos indígenas e africanos como pertencentes, cada um, a uma única cultura, embora suas origens sejam muito diversas, com inúmeras diferenças culturais e também linguísticas.
Mitos
Construções narrativas complexas que geralmente se referem aos princípios do tempo, oferecendo explicações para os principais acontecimentos da vida. Muitas vezes representam de forma simbólica acontecimentos da natureza que se repetem ciclicamente.
Modernismo paulista
Movimento associado às propostas da arte moderna, que teve início no Brasil na década de 1920. Em São Paulo, teve como marco a realização da Semana de Arte Moderna de 1922, que incluiu manifestações artísticas em diversas linguagens – artes visuais (pintura e escultura), literatura e música. Suas propostas estavam voltadas ao mesmo tempo para a incorporação das inovações estilísticas e temáticas das vanguardas artísticas europeias e para a discussão do papel da arte na construção de uma identidade brasileira.
Monoprints
Mono significa um ou único, e print, impressão. Desse modo, monoprints são gravuras que podem ser impressas uma única vez, impossibilitando a reprodução de várias cópias.
Monotipia
Trata-se do conjunto de técnicas de impressão por meio das quais se consegue reproduzir um desenho ou uma mancha de cor uma única vez (daí o nome “monotipia”). O desenho é feito sobre uma superfície lisa provisória, como metal, plástico ou vidro; a folha de papel é colocada sobre essa superfície, e assim se obtém a impressão.
Movimento Neoconcreto ou Neoconcretismo
Movimento de artistas brasileiros lançado com o Manifesto Neoconcreto, em 1959. Revisou a abstração geométrica concretista dos anos 1950, que havia aproximado arte e indústria, questionando seu racionalismo e defendendo o resgate da subjetividade, os experimentos de linguagem e a aproximação com o espectador. Dentre os artistas participantes estão Amilcar de Castro (1920-2002), Hélio Oiticica (1937-
1980), Lygia Clark (1920-1988) e Lygia Pape (1927-2004).
Muralismo Mexicano
José Clemente Orozco (1883 – 1949), Diego Rivera (1886 – 1957) e David Alfaro Siqueiros (1896 – 1974) são os artistas que compuseram esse movimento ocorrido no México entre 1920 e 1970. Em acordo com os ideais da Revolução Mexicana (1910-1917), os muralistas propunham produções artísticas e culturais com aspirações nacionalistas, exaltando a identidade mestiça do México e valorizando os trabalhadores, as lutas sociais do povo e a cultura pré-colombiana. Como forma de alcançar a população, as criações desses artistas eram concebidas em murais de escala monumental colocados em espaços públicos.
Museologia
Disciplina social e aplicada que se refere aos museus e incorpora seus aspectos teóricos, metodológicos, práticos e técnicos. Dedica-se ao estudo da relação entre o ser humano e os objetos, sejam naturais ou artificiais, que guardam aspectos importantes para a memória de um grupo ou sociedade. Assim, a museologia constitui um conjunto de conhecimentos científicos referentes à conservação, classificação e apresentação das coleções de museus.
Museu
Instituição dedicada a selecionar, adquirir, conservar, pesquisar e exibir ao público elementos materiais – objetos naturais ou artificiais – e imateriais – como memórias, costumes, conhecimentos – referentes às sociedades e seus ambientes. Essa divulgação feita pelo museu pode ter fins educativos, relacionados ao ensino e à pesquisa, mas também pode ter por objetivo o lazer. Assim, tal instituição não possui finalidades lucrativas e está à serviço da sociedade.
Museu Lasar Segall
Museu idealizado por Jenny Klabin Segall (1899 – 1967), viúva de Lasar Segall (1889-1957). Foi criado em 1967 por Mauricio Segall (1926- 2017) e Oscar Klabin Segall (1930 – 2002), filhos do artista. Hoje, integra o Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. O museu tem como missão conservar, pesquisar e divulgar a obra de Lasar Segall. Com um acervo de 3.000 trabalhos do artista, constitui um atuante centro de atividades culturais nas áreas de gravura, fotografia e criação literária, além de abrigar uma biblioteca especializada em teatro, ópera, dança, cinema, fotografia, rádio e televisão e extensa documentação sobre a vida e a obra de Lasar Segall.
N
Neoexpressionismo
Entre meados da década de 1960 e o fim da década de 1970, diversos artistas passaram a negar o fazer artesanal das obras, em especial da pintura, buscando produzir trabalhos nos quais as ideias e os conceitos fossem mais importantes que o processo de fazer a obra – que não necessariamente precisava ser executada pelo artista. Esse movimento foi conhecido como arte conceitual. Na Alemanha, a década de
1980 foi marcada pelo chamado “retorno à pintura”, a partir dos trabalhos de uma geração de artistas que buscou retomar a tradição artística alemã com influências do romantismo oitocentista e do expressionismo do início do século XX, procurando representar a realidade de forma crítica, emocional e subjetiva e apresentando posicionamentos políticos em face de causas sociais, ambientais e econômicas. Sua pintura defendia uma expressão que refletisse diversas maneiras de conceber a arte. Na Itália, essas ideias deram origem à Transvanguarda e à Arte Povera, conhecidas pelo uso de tintas misturadas a materiais como areia, palha e outros, aderidos à tela.
Nova Figuração ou Neofiguração
Termo que afirma a existência de uma tendência na arte brasileira dos anos 1960 caracterizada pela negação das abstrações, com interesse pelo retorno da figuração e por uma crítica social tratada com humor e ironia. Sob influência da Arte Pop e do Novo Realismo, os artistas neofigurativos usavam em suas obras referências visuais dos meios de comunicação de massa, dos ídolos do futebol e da estética publicitária.
Nova Objetividade
O termo foi cunhado por Gustav Hartlaub (1884 – 1963) como título de uma exposição por ele idealizada. Ela ocorreu em 1925, na cidade de Munique, na Alemanha. As obras ali apresentadas caracterizavam as produções associadas à Nova Objetividade: possuíam em comum o tom de denúncia e sátira social e a crítica à sociedade burguesa e à guerra. No Brasil, a exposição inaugural da Nova Objetividade Brasileira foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1967. A mostra fez um balanço da arte brasileira de vanguarda da época.
Novo Realismo
Movimento liderado pelo crítico de arte francês Pierre Restany (1930 – 2003) e surgido em 1960 na França e na Itália. Os novos realistas propõem uma nova expressividade para uma nova realidade sociocultural, caracterizada pela hegemonia norte-americana no pós-guerra, pela máquina, pelas culturas de massa e informação, pela publicidade, pelos avanços tecnológicos que modificam a vida cotidiana com
os novos eletrodomésticos e, politicamente, pela realidade da guerra fria. Trata-se de religar a esfera da arte ao mundo, baseando-se na introdução dos elementos do real nos trabalhos de arte. Busca-se captar o real percebido em si, e não através do prisma da emoção. A assemblagem, uso de materiais coletados do cotidiano e incorporados nas obras, é o principal meio de expressão do Novo Realismo.
O
Onírico
Referente aos sonhos.
Onomatopeias
Imitação do som das coisas, como ruídos da natureza ou de máquinas, por meio de fonemas ou palavras, geralmente utilizada para dar maior expressividade ao texto escrito ou falado.
Ordem Rosacruz
Grupo místico e filosófico que tem o objetivo de buscar o aperfeiçoamento psíquico, intelectual e espiritual de seus membros e da humanidade. Seu nome remete ao monge alemão Christian Rosenkreuz, que teria vivido no século XIV e fundado a primeira ordem na Europa, mas os rosacruzes afirmam-se herdeiros de tradições esotéricas que remontam à antiguidade.
Orfismo
O termo faz referência a Orfeu, poeta e tocador de lira da mitologia grega, que simboliza a possível fusão da música com as outras artes. Na pintura, é uma tendência surgida no âmbito do cubismo – movimento que decompunha as formas e a construção espacial, geometrizando as figuras – e que teve em Robert Delaunay (1885-1941) o seu maior representante. Enfatiza o uso da cor e da forma como meio de comunicar emoções e simular o movimento e dinamismo do mundo moderno.
Orixá
Divindade ou deus pertencente a religiões como o candomblé e a umbanda, cuja origem remonta aos povos iorubas da África, que foram escravizados e trazidos à força ao Brasil na Idade Moderna. Cada orixá é uma força espiritual responsável por aspectos específicos da natureza e de dimensões da vida social humana. Os orixás são humanizados e possuem cada qual sua personalidade própria.
Oswald de Andrade
(São Paulo, 1890 – São Paulo, 1954)
Escritor brasileiro, teórico e articulador do movimento modernista e da Semana de Arte Moderna de 1922, que buscava a valorização da cultura brasileira, criticando aspectos do passado colonial. Casado com Tarsila do Amaral (1886 – 1973) de 1926 a 1930. Seus textos Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) e Manifesto Antropófago (1928) sintetizam o ideário poético do modernismo paulista.
P
Patrimônio cultural
Conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo ou de uma comunidade. Está presente em vários lugares e atividades: nas ruas, em nossas casas, em nossas danças e músicas, nas artes, nos museus e escolas, igrejas e praças. Trata-se também dos modos de fazer, criar e trabalhar. Faz parte do cotidiano e estabelece as identidades que determinam os valores defendidos por uma sociedade. O Estado, por meio da legislação e das instituições, escolhe determinadas manifestações, realizações e representações para se tornarem patrimônios culturais e serem preservadas oficialmente.
Patuá
Um tipo específico de amuleto que, para muitas pessoas, serve para afastar os malefícios. No candomblé, religião afro-brasileira, os patuás são utilizados como objetos consagrados e trazem em si o axé (força sagrada) das entidades que representam.
Pedro Alexandrino
(São Paulo, Brasil, 1864 – São Paulo, Brasil, 1942)
Pintor, decorador, desenhista e professor brasileiro conhecido por suas naturezas-mortas, formado pela Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. Foi aluno do também artista José Ferraz de Almeida Junior e professor de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, entre outros.
Pêndulo
Dispositivo que consiste num corpo com certo volume preso a um fio inextensível que oscila em torno de um ponto fixo. Esse dispositivo executa movimentos alternados em torno da posição central, chamada posição de equilíbrio. O pêndulo é muito utilizado em estudos da força, do peso e do movimento oscilatório em Física.
Pensionato artístico
Programa de bolsas de estudos concedidas pelo Governo do Estado de São Paulo, de 1912 a 1931, para jovens artistas irem aperfeiçoar-se na Europa. Entre as obrigações dos artistas contemplados estava a doação de obras desenvolvidas durante o período da bolsa à Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Performance
Ação artística que mescla aspectos das artes visuais, do teatro, da dança e da música, mas pode envolver também outros elementos e dinâmicas realizadas pelo artista, incluindo o ambiente onde está ocorrendo a ação. Geralmente resulta em algum tipo de documentação (vídeo, filme, livro, foto) destinado ao circuito de arte.
Personificação
Indivíduo ou imagem de pessoa que representa ou faz lembrar alguma coisa abstrata, como uma qualidade ou uma ideia.
Perspectiva
Técnica utilizada para representar elementos tridimensionais sobre uma superfície plana, gerando ilusões visuais de profundidade, espessura e volume. É constituída a partir de princípios matemáticos associados à geometria e à ótica.
Pesquisa em arte
Conjunto de atividades relacionadas a estudos, averiguações, práticas e sistematização de informações, entre outros aspectos, que respeitam normas e parâmetros específicos e têm como finalidade a descoberta de novos saberes, bem como a confirmação ou a contestação de saberes antigos, sobre a área de artes.
Pictorialismo
O pictorialismo surgiu entre os fotógrafos da segunda metade do século XIX, na Europa. Consistia na criação de imagens fotográficas semelhantes a pinturas, gravuras e desenhos. Para isso, os fotógrafos muitas vezes também alteravam manualmente as fotografias já prontas. Muitos pintores da época tiveram receio de perder espaço para essa fotografia artística que surgia, e buscaram produzir
suas obras a partir de meios que transpunham os limites técnicos fotográficos. No início do século XX, com a Primeira Guerra Mundial, o estilo pictorialista começou a entrar em decadência.
Pinacoteca do Estado de São Paulo
É o museu de artes visuais mais antigo do Estado de São Paulo, e um dos mais importantes. Ocupa o prédio inicialmente construído para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, cujo projeto é do arquiteto Ramos de Azevedo. A Pinacoteca foi inaugurada em 14 de novembro de 1905. Durante o final da década de 1990, o prédio foi restaurado visando sua conservação estrutural, bem como a adequação
de suas instalações, que foram adaptadas para as atividades de um museu de artes visuais moderno. Seu acervo contém por volta de 11 mil obras, principalmente de arte brasileira dos séculos XVII ao XXI. Integra um conjunto de instituições museológicas vinculadas à Secretaria da Cultura e da Economia Criativa de São Paulo.
Pinacoteca Estação
Inaugurada em janeiro de 2004 como um novo espaço da Pinacoteca do Estado, situa-se num edifício construído em 1914 para abrigar os escritórios e armazéns da Estrada de Ferro Sorocabana, com projeto arquitetônico do Escritório Técnico de Ramos de Azevedo. Em 1939, o edifício passou a abrigar o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops). Em 1983, após a extinção do Deops, o prédio foi utilizado pela Delegacia de Defesa do Consumidor (Decon) até 1997, quando passou para a Secretaria de Estado da Cultura. O edifício sofreu uma ampla restauração de 1997 a 2002, a cargo do arquiteto Haron Cohen. Atualmente, além de apresentar exposições temporárias de artes visuais, o edifício abriga o Memorial da Resistência de São Paulo, a Biblioteca Walter Wey e o Centro de Documentação e Memória do museu.
Pintura matérica
Surge após a Segunda Guerra Mundial. Consiste em trabalhos nos quais os artistas agregam pigmentos secos (como pó de mármore, areia, terra, entre outras substâncias) a alguma base líquida, constituindo densas camadas de tinta e relevos profundos.
Pintura metafísica
Estilo de pintura que representa cenários misteriosos, criando cenas que aparentam silêncio e sugerem sensação de inquietude por meio de elementos simbólicos como o manequim, a meio caminho entre o homem e o robô. Há uma busca por uma atemporalidade nas obras, com arquiteturas racionais e clássicas. Giorgio De Chirico (1888 – 1978) e Giorgio Carrá (1881-1966), que cunham o termo “pintura metafísica” em 1917, são dois de seus maiores representantes.
Poética
O termo vem da palavra grega poiesis e refere-se à capacidade e ao domínio do conhecimento para fazer algo. Assim, a poética pode, em princípio, ser associada a qualquer produção humana. Nas artes, a poética abrange aspectos que individualizam as obras de um artista: as características que se referem à marca pessoal do artista nas suas produções, envolvendo não apenas seu estilo e domínio técnico, mas também os discursos e valores subjetivos.
Pop art
Ver Arte Pop.
Primeiro plano
Nas representações bidimensionais, como por exemplo em pinturas e desenhos, denomina-se plano a cada uma das camadas de elementos representados, que diminuem de tamanho na medida em que parecem afastar-se do observador. Esses elementos em conjunto causam a sensação de perspectiva, gerando uma ilusão visual de profundidade na imagem. O primeiro plano é aquela camada que parece estar mais próxima do observador.
R
Ready-Made
A palavra ready-made pode ser traduzida como algo “já pronto”, “pré-fabricado”. Foi o termo usado pelo artista francês Marcel Duchamp (1887 – 1968) para se referir à sua proposta artística, que apresentava como obras de arte objetos industriais de uso cotidiano. Com essa atitude de se apropriar de um objeto preexistente e ressignificá-lo como artístico, o trabalho do artista passava a ser considerado comoa ação mental em vez da confecção do objeto de arte. Seu primeiro ready-made (1912) foi uma roda de bicicleta montada sobre um banquinho. Ao eleger objetos utilitários pré-fabricados, em geral sem valor estético, e transferi-los para o contexto do circuito artístico, o artista sugeria críticas ao sistema da arte e suas regras de funcionamento, que definiam, por exemplo, o que deveria ser considerado como uma obra de arte ou quem era artista. A história de outro ready-made, chamado de Fonte, exemplifica essas reflexões: Duchamp enviou anonimamente um mictório, com a assinatura “R. Mutt”, para o Salão dos Artistas Independentes de Nova York em 1917, suscitando questões sobre a condição da obra de arte, vista na época como um objeto único e obrigatoriamente elaborado pelas mãos de alguém que fosse considerado um artista.
Realismo
Em sentido mais amplo, se refere à representação da realidade, concebida nas obras de arte por meio de técnicas que imitam a natureza e o mundo, em conformidade com o que se acredita que os olhos veem naturalmente. Realismo é também o nome de um movimento artístico que surgiu na França no século XIX, propondo retratar o homem e a sociedade em sua totalidade, sem idealizações nem sentimentalismos. Assim, ampliaram-se os temas abordados nas obras dos artistas para além daqueles relacionados à aristocracia e à aparência, incluindo-se também acontecimentos do cotidiano e as camadas mais baixas da sociedade, como, por exemplo, representações de trabalhadores braçais, camponeses, pintores e até mendigos e prostitutas.
Renascença
Movimento cultural ocorrido na Itália, entre os séculos XIV e XVI, que visou a recuperação dos valores estéticos e do pensamento da antiguidade greco-romana. Nas artes visuais, teve seu progresso marcado pelo crescente domínio de estudos e representações da anatomia e pelo emprego das técnicas da perspectiva, que criam a ilusão visual de profundidade. Teve seu auge no século XVI, expandindo-se a outras localidades da Europa ocidental.
Representação naturalista
Representação que, buscando criar imagens próximas às da realidade, marcou profundamente toda a arte ocidental, desde a Grécia antiga até o final do século XIX. Buscava representar as figuras e formas da natureza a partir de uma observação bastante cuidadosa e detalhista.
Retorno à ordem
Expressão que designa as propostas artísticas desenvolvidas na Europa no período entre as guerras mundiais, no qual os artistas buscaram retroceder a uma “ordem” existente antes do advento das experimentações artísticas realizadas pelas Vanguardas Artísticas (o expressionismo, o fauvismo, o cubismo etc., que haviam introduzido novas cores, formas e temas nas obras) por meio de uma produção com características figurativas e regionalistas, além da valorização do trabalho artesanal do artista, conservando, porém, algumas soluções formais conquistadas no contexto das vanguardas.
Retrato
Uma imagem que representa uma ou mais pessoas (pode ser retrato individual ou de grupo), enfocando usualmente os rostos, de modo a evidenciar aspectos expressivos e particulares da identidade do(s) indivíduo(s) ali presente(s).
Ritmo visual
O ritmo visual se estabelece pela repetição e alternância dos diversos tipos de elementos visuais selecionados pelo artista para compor sua obra, evidenciando relações de harmonia entre eles.
Robert Delaunay
(Paris, França, 1885 – Montpellier, França, 1941) Foi um dos precursores da pintura abstrata. Participou do cubismo, movimento que
revisou a construção espacial das formas e da perspectiva e utilizava a geometrização das figuras. Delaunay ficou conhecido por suas séries cubistas, entre elas a da Torre Eiffel. Foi um dos maiores representantes do Orfismo, movimento conhecido pelo uso de cores fortes e formas geométricas.
Robert Ryman
(Tennessee, EUA, 1930 – Nova Iorque, EUA, 2019) Pintor norte-americano que viveu em Nova Iorque e ficou conhecido por suas obras
abstratas pintadas em branco sobre branco. O artista defendia uma forma de realismo que se manifestava no interesse em pôr em evidência os materiais utilizados em suas composições, sem tentar criar ilusões de representação.
S
Samba-exaltação
Gênero de samba inaugurado em 1939 com a música Aquarela do Brasil, de Ary Barroso (1903 – 1964). Caracteriza-se pelas composições ufanistas que exaltam a cultura e a natureza brasileiras de forma genérica. Coincide com o nacionalismo do Estado Novo e a imagem do país que se procurou exportar no período.
Semana de 22 ou Semana de Arte Moderna
Evento realizado no Teatro Municipal de São Paulo de 11 a 18 de fevereiro de 1922, que teve como principal objetivo apresentar a renovação e transformação da produção artística no contexto artístico e cultural urbano, abrangendo literatura, artes plásticas, arquitetura e música. Por sua grande repercussão nacional, é considerado um marco do modernismo brasileiro.
Sensibilidade
Associa-se ao sentir e à criatividade, abrangendo o campo psíquico dos sentimentos e valores, assim como a imaginação.
Sergio Romagnolo
(São Paulo, Brasil, 16 de dezembro de 1957) Professor e artista plástico brasileiro, que estudou na Fundação Armando Álvares
Penteado e lecionou na mesma fundação entre 1985 e 1986. Fazem parte de sua pesquisa o interesse pelo urbano e o industrial materializados no plástico, material que o artista molda com suas mãos para dar forma a carros, prédios, aviões, máquinas fotográficas, câmeras de vídeo e latas de lixo.
Shakers
O movimento dos Shakers (estabelecido em 1774 nos EUA) foi uma grande influência para o artista brasileiro Leonilson, que, em entrevista a Lisette Lagnado, revelou ter ficado profundamente comovido ao visitar uma exposição de design dos shakers em Nova Iorque. Para os Shakers, a estética está indissociavelmente ligada à ética, de modo que tudo o que produzem é orientado pela ideia de que “o que é prático é belo”. A Comunidade dos Shakers data do fim do século XVIII, tendo sido fundado pela inglesa Ann Lee em território americano. Toda a propriedade era coletiva, com base em uma economia autossuficiente: todos os móveis, ferramentas e meios de produção eram fabricados artesanalmente na comunidade para seu próprio uso ou para venda externa. Tudo devia ser simples e sem acréscimo de adereços externos, como, por exemplo, decorações: todos os objetos deviam corresponder ao seu contexto e à sua finalidade, seguindo os conceitos de perfeição, pureza, ordem, simplicidade, durabilidade, funcionalidade e utilidade. O uso das cores era codificado: camas, cinza; travesseiros, cores discretas, estampados parciais ou letras; cobertores e edredons, azul e branco. Sacralizando o valor de uso dos objetos, cada item produzido devia ser perfeito: “a utilidade é a beleza”, “a simplicidade encarna a pureza e a unidade”, “a ordem deve reinar e as formas inúteis devem ser banidas”.
Símbolos
Figura que representa um ser, objeto ou ideia abstrata; aquilo que, por convenção ou por princípio de analogia formal ou de outra natureza, substitui ou sugere algo.
Simetria
Um eixo de simetria é uma linha que divide uma figura ao meio, em duas partes complementares, de maneira que uma metade é igual à outra, ou seja, reflete a outra como se fosse um espelho.
Site-specific
Expressão de língua inglesa que significa “para um lugar específico” e se refere às manifestações comuns na arte contemporânea, em que obras são criadas para um espaço específico. Consiste em um tipo de intervenção artística concebida com diversos tipos de materiais formando um determinado ambiente. São obras planejadas, e geralmente feitas a convite de uma instituição cultural, para que os seus elementos dialoguem com o meio e a arquitetura em que será inserida.
Sobreposição
Ato de colocar algo – um objeto ou imagem – sobre outra coisa.
Sociedade patriarcal
Sociedade na qual os homens adultos detêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle da propriedade, ou seja, na qual prima a supremacia do homem nas relações sociais. O termo “patriarcal” deriva de “patriarcado”, que, por sua vez, tem origem na palavra grega pater. O termo foi usado pela primeira vez com a conotação de preponderância do homem na organização social pelos hebreus, com o propósito de qualificar o líder de uma sociedade judaica. Mas o grego helenístico também já fazia menção ao termo, pois as mulheres eram concebidas como objetos de satisfação masculina e, consequentemente, julgadas como inferiores. No domínio da família, o pai (ou figura paterna) mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças. Historicamente, o patriarcado tem-se manifestado na organização social, legal, política e econômica de diversas culturas.
Sociedade Pró-Arte Moderna – SPAM
Fundada por intelectuais e artistas como Tarsila do Amaral (1886 – 1973), Lasar Segall (1889 – 1957), Paulo Rossi Osir (1890 – 1959) e Paulo Mendes de Almeida (1905-1986), entre outros, atuou no sentido de promover e divulgar a arte moderna em São Paulo entre 1932 e 1934. A SPAM realizou diversas atividades, como exposições, palestras e concertos, além de bailes de carnaval com painéis e figurinos desenhados e confeccionados pelos próprios artistas.
Status quo
Expressão de origem latina que significa “o estado das coisas”. É utilizada para indicar elementos sociais e/ou culturais do passado conservados numa dada sociedade, grupo ou classe social.
Suporte
Superfície utilizada para a realização de trabalhos de artes visuais. Em pintura, por exemplo, pode ser de madeira, tela, tecido ou papel, entre diversos outros materiais.
Surrealismo
Movimento literário e artístico europeu, iniciado em 1924 pelo escritor francês André Breton (1896 – 1966) sob a influência das ideias do psicanalista Sigmund Freud (1856-1939). Propunha que as obras fossem produzidas pela expressão espontânea e automática do pensamento, fugindo do controle da razão. Enfatizava o papel dos sonhos, do inconsciente, dos desejos e do acaso na criação artística. Pregava a renovação dos valores morais, políticos, científicos e filosóficos. Por extensão, o termo é também utilizado em relação a obras de artistas que não participaram deste movimento, mas manifestam afinidades com estes princípios.
T
Tema
Assunto tratado em uma obra de arte; resultado da interpretação do artista.
Temática regionalista
Adoção de temas que caracterizam determinada região.
Tendência narrativa
A tendência de expor um acontecimento ou uma série de acontecimentos, reais ou imaginários, por meio de palavras ou de imagens, construindo uma sequência compreensível.
Teosofia
Conjunto de doutrinas filosóficas e religiosas cujos princípios se baseiam na busca da verdade manifesta na natureza e no homem. A Sociedade Teosófica foi fundada em 1875 em Nova Iorque pela russa Helena Blavatsky (1831 – 1891).
Território
Termo geralmente associado com uma área, uma extensão espacial da superfície terrestre definida a partir de relações de poder e posse. As definições de território vêm sendo ampliadas com as discussões contemporâneas sobre a utilização social dos espaços. Considerando a complexidade das relações dos seres humanos com o meio em que vivem, o território passa a ser entendido não apenas como a delimitação de um determinado espaço, mas como um conjunto dinâmico de relações entre indivíduos e desses com as variáveis políticas, econômicas e culturais. Assim, a ampliação do conceito nos permite identificar não apenas os territórios oficialmente reconhecidos como países, estados, cidades, distritos e bairros, mas também os territórios não reconhecidos oficialmente, como é o caso das relações de comunidade desenvolvidas em ocupações irregulares nas cidades brasileiras.
Transcendental
Aquilo que ultrapassa, que se eleva acima de um determinado nível, que vai além dos limites de onde está inserido, que extrapola os limites da experiência concreta ou empírica
Transvanguarda italiana
O termo surge na Itália em 1980, com a publicação do livro A Transvanguarda Italiana, de Achille Bonito Oliva (1939). Refere-se sobretudo a artistas com produções pictóricas e escultóricas que, apesar de variadas, partilham de algumas características, como o uso intenso de cores, pinceladas marcantes e a presença da figuração, com ênfase em elementos da natureza e na presença do corpo humano. A transvanguarda reúne características de vários tempos e movimentos artísticos, incluindo tendências como o neoexpressionismo, por conta de aspectos violentos e emotivos presentes nas pinturas.
Tropicália
Nome da obra de Hélio Oiticica (1937 – 1980) apresentada na exposição Nova Objetividade Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1967. Essa obra pertence a um período da produção do artista voltado para pesquisas sensoriais em torno dos sentidos do espectador (tato, visão, audição, olfato) e consiste num ambiente labiríntico composto por diversos elementos que remetem à problematização das ideias do tropical e da cultura brasileira, entre eles areia, plantas, poemas e outras obras do artista Para além das artes visuais, a Tropicália ou Tropicalismo foi um movimento cultural e artístico que se disseminou no final da década de 1960 na música, com cantores e compositores como Gilberto Gil (1942), Tom Zé (1937) e Caetano Veloso (1942); no teatro, com dramaturgos como José Celso Martinez Corrêa (1937); no cinema, com cineastas como Glauber Rocha (1939-1981); e também na poesia.
V
Vanguarda (vanguardas artísticas / vanguardas europeias)
Em sentido literal, vanguarda (que vem do francês avant garde, “guarda adiantada”) faz referência ao batalhão militar que se coloca à frente das tropas em ataque durante uma batalha. Daí se deduz que vanguarda é aquilo que “está à frente”. No campo das artes, o termo “vanguardas artísticas” designa aqueles movimentos e conceitos artísticos e culturais que propõem mudanças radicais em relação aos preceitos artísticos clássicos vinculados às academias de belas artes e suas formas de representação na arte. As vanguardas apontam para novas concepções de mundo e novos códigos artísticos, sendo exemplos delas as vanguardas europeias do início do século XX (cubismo, dadaísmo, expressionismo etc.) e as vanguardas das décadas de 1960 e 1970.
Voluta
Forma espiral derivada de elementos da natureza, como conchas, muitas vezes utilizada como ornamento.