No início dos anos 1970, a cultura brasileira reorganizava-se em um complexo e paradoxal cenário após o AI-5 e o silêncio imposto ao debate político e cultural de 1968. Face ao exílio e à censura direcionadas aos principais artistas e intelectuais, ao crescimento notável dos meios de comunicação de massa alinhados ao governo federal e à propaganda ufanista do regime militar, as vanguardas artísticas renovaram suas buscas por novos espaços e estratégias e formas de expressão. Os então chamados “anos de chumbo”, de uma maneira ou de outra, marcaram importantes revoluções culturais e foram pano de fundo para o surgimento de uma série de produções artísticas e de movimentos sociais contrários à política de estado brasileira.
Dando ênfase às diferenças conceituais e estéticas que se agrupam ao redor destas vanguardas (arte neoconcreta, nova figuração brasileira, tropicalismo etc), o curso percorre as produções em diálogo com os contextos culturais e sociopolíticos do período. Entre aulas teóricas e visitas às exposições em cartaz “Mulheres em Luta” (no Memorial da Resistência), “60 anos da Ditadura”, “Lygia Clark : Projeto para um planeta” e “Pinacoteca: Acervo“, o curso constrói um panorama sociocultural até o final do regime de exceção, cruzando também com o experimentalismo estético e poético das vanguardas deste período.
PÚBLICO-ALVO: professores, pesquisadores, artistas e público geral interessado em vanguardas artísticas, cultura, história do Brasil e ditadura militar.
FORMATO: presencial
NÚMERO DE VAGAS: 100
4 vagas para alunos ali:leste
20 vagas para pessoas professoras de escolas públicas e educadoras sociais
12 vagas afirmativas (pessoas pretas, pardas, amarelas, indígenas, ciganas, transexuais/travestis, com deficiência e pessoas com rendimento médio mensal de até dois salários mínimos).
Seleção por ordem de inscrição através do formulário do Microsoft Forms a partir de 04/03.
DIAS E HORÁRIOS
Datas: 6, 11, 13, 18, 20, 25, 27 de abril e 2 de maio (quintas e sábados)
Horário: quintas das 18h às 20h | sábados das 11h às 13h
PREÇO
Inteira: R$190,00
Meia: R$95,00 (meia para professores, estudantes e pessoas acima de 60 anos)
Amigos e patronos da Pina: R$170,00
INSCRIÇÕES
As inscrições devem ser feitas a partir de 4 de março pelo site da INTI.
Professores de escolas públicas e educadores sociais podem solicitar inscrição para as 50 vagas gratuitas. Basta preencher o formulário do Microsoft Forms a partir de 04/03. A seleção é feita por ordem de inscrição.
PROGRAMA DE AULAS
Aula 1 — Os contextos históricos da ditadura militar — Julia Gumieri
Nesta aula de abertura a historiadora e pesquisadora Julia Gumieri tratará de traçar um panorama das conjunturas políticas que antecederam o regime, como as crises republicanas da década de 1940-1950 até o governo João Goulart, o Anticomunismo, Nacional-Desenvolvimentismo, Populismo e as reformas de base. Também serão abordadas as caracterizações dos diversos momentos da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985).
Aula 2 — Aula e visita à exposição “Mulheres em Luta” — com Ana Pato e Carolina Junqueira
A partir da visita à exposição “Mulheres em luta! Arquivos de Memória Política”, o encontro refletirá sobre a participação das mulheres na vida política do país, do autoritarismo vivido durante a ditadura ao processo de redemocratização brasileiro. A mostra, que reúne documentos de vigilância de época, fotografias, arquivos de memória política e testemunhos pertencentes ao acervo do Memorial da Resistência, apresenta a luta de ex-presas políticas, militantes, artistas e coletivos em favor da busca pela verdade, da justiça e de direitos fundamentais. A aula também abordará a resistência contra a violência de gênero, a impunidade e as diversas formas de autoritarismo para com as mulheres.
Aula 3 — A repressão e os movimentos sociais — com Ana Flávia Magalhães Pinto
Diretora geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia abordará os processos de organização e articulação de movimentos sociais estruturados pela população negra durante o regime militar. Tendo como pano de fundo sua pesquisa — com foco na atuação político-cultural de pensadores/as negros/as, imprensa e experiências de liberdade e cidadania de pessoas negras ao longo da história do Brasil — a aula tem por objetivo ampliar o repertório sobre as resistências que ocorreram durante a ditadura, para além daquelas já abordadas pela historiografia hegemônica.
Aula 4 — Aula e visita na exposição “Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência” — com Lorraine Mendes
Neste encontro, a partir das obras presentes na exposição “Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência” iremos traçar um percurso através da história e das relações sociais que fazem com que a ditadura militar no Brasil faça parte de um passado-presente. Tais obras, oriundas de acervos de diferentes naturezas, podem provocar um debate em torno das noções de arquivo, memória e história potencial, conceito de Ariella Azoulay, essencial para essa proposta curatorial.
Aula 5 — Utopia, resistência e massificação: a vida cultural brasileira na ditadura militar — com Marcos Napolitano
Nesta aula faremos uma síntese das complexidades da vida cultural e artística no Brasil durante o regime militar (1964-1985), explorando as realizações e as contradições vividas por artistas, intelectuais, empresários da cultura, gestores das políticas culturais. A época foi marcada pela convivência conflitiva entre projetos de revolução social, resistência democrática e expansão da cultura de massa. Longe de serem vetores estanques, eles interagiram, formando uma cena cultural fascinante, que até hoje desafia as análises.
Aula 6 — Aula e visita na exposição permanente “Pinacoteca: Acervo” — com Yuri Quevedo
Aula 7 — Poéticas do Processo e da Resistência — com Cristina Freire
Nas décadas de 1960 e 70 delineia-se na arte um programa comum de urgências que não se define pela forma dos objetos criados, mas principalmente, pelo tipo de intervenção poética e política, coletiva e criativa que os artistas são capazes de exercer na sociedade. As estratégias utilizadas na elaboração e circulação dos trabalhos redefiniam o conceito moderno de obra de arte, articulando arte e vida. A participação do público assume uma vertente crítica, ética e política frente ao contexto de repressão vivido na sociedade brasileira naquele momento. Algumas características comuns como a transitoriedade dos meios e a precariedade dos suportes utilizados são tomadas como alternativas e atitudes críticas frente às instituições tais como o museu, a censura dos estados ditatoriais e o mercado.
Aula 8 — Aula e visita na exposição da “Lygia Clark: Projeto para um planeta” — com Pollyana Quintella e Ana Maria Maia
A mostra de uma das artistas brasileiras mais relevantes do século XX “Lygia Clark: Projeto para um planeta” ocupa as sete galerias da Pina Luz com mais de 150 obras que demonstram o legado dos mais de 30 anos de carreira da artista. Nesta aula as curadoras da mostra percorrerão a produção de Lygia, mostrando o percurso de sua carreira em paralelo às questões estéticas e linguísticas que surgiam de uma geração de artistas que buscavam formas de estabelecer vínculos entre as questões socioculturais, a arte e a vida.
PALESTRANTES
ANA FLÁVIA MAGALHÃES PINTO
Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (2014), mestre em História pela Universidade de Brasília (2006). Também possui formação em Comunicação Social – Jornalismo e Letras. É professora da Universidade de Brasília desde 2018, atuando na Graduação e na Pós-Graduação em História e no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, na linha de pesquisa Direitos Humanos, História, Memória, Políticas Públicas e Cidadania. Desde a primeira graduação, desenvolve pesquisas articulando conhecimentos das áreas de História, Comunicação, Literatura e Educação, com ênfase em: atuação político-cultural de pensadores/as negros/as, imprensa negra, abolicionismos e experiências de liberdade e cidadania negras no período escravista e no pós-abolição no Brasil. É integrante da Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros e da Coalizão Negra por Direitos. Atualmente, também atua como diretora-geral do Arquivo Nacional, órgão com status de Secretaria do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.
ANA PATO
Ana Pato é Diretora Técnica do Memorial da Resistência de São Paulo. Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU-USP) e mestra em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina. Foi curadora das exposições “Mulheres em luta! Arquivos de memória política” (2023), “Yona Friedman: Democracia” (2020), “Meta-Arquivo: 1964-1985. Espaço de escuta e leitura de histórias da ditadura” (2019), “Quanto Pesa uma Nuvem?”, de Giselle Beiguelman (2016) , e curadora-chefe da 3ª Bienal da Bahia (2014). É autora de “Literatura Expandida: arquivo e citação na obra de Dominique Gonzalez-Foerster ” (Edições Sesc: Videobrasil, 2012).
CAROLINA JUNQUEIRA
Carolina Junqueira integra a Ação Cultural do Memorial da Resistência de São Paulo. É graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2017) e pós-graduada em Estudos e Práticas Curatoriais pela Fundação Armando Álvares Penteado (2019). Foi assistente de curadoria das exposições “Meta-Arquivo: 1964-1985. Espaço de escuta e leitura de histórias da ditadura” (2019), “Ensaio Aberto” (2019) e “Palavras Somam” (2019). No Memorial da Resistência, foi assistente de curadoria e pesquisadora das exposições “Mulheres em luta! Arquivos de memória política” (2023), “Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência” (2022) e “Yona Friedman: Democracia” (2021).
CRISTINA FREIRE
Professora Titular e curadora aposentada do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Docente e Orientadora no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte (PGEHA, USP). É pesquisadora do CNPq – Produtividade em Pesquisa desde 2017. Professora Visitante na Universidade de Princeton – EUA (2019). Livre-Docente (2003), Doutora(1995) e Mestre (1990) pelo Instituto de Psicologia da USP. Mestrado em Museums and Galleries Management – The City University – Londres (1996). Foi coordenadora da Divisão de Pesquisa em Arte, Teoria e Crítica do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (2005-2010) e Vice-Diretora do MAC USP (2010-2014). Coordenadora do GEACC – Grupo de Estudos em Arte Conceitual e Conceitualismos no Museu – CNPq desde 2011. Sua produção acadêmica inclui textos em publicações nacionais e internacionais e os livros: Além dos Mapas: monumentos no Imaginário Urbano Contemporâneo (ed. Annablume, 1997); Poéticas do Processo. Arte Conceitual no Museu (ed. Iluminuras, 1999); Arte Conceitual, (ed. Jorge Zahar, 2006); Paulo Bruscky. Arte, Arquivo e Utopia (ed. CEPE, 2007); Walter Zanini: Escrituras Críticas (ed. Annablume/MAC USP, 2013 – Prêmio Jabuti 2014), entre outros.
JULIA GUMIERI
Mestre (2016) pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo (USP) e graduada (2011) em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente trabalha como Pesquisadora Sênior do Memorial da Resistência de São Paulo. Entre 2013 e 2014, foi membro da Comissão da Verdade da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Atua na área de História Social com ênfase em pesquisas sobre a ditadura brasileira, lugares de memória, testemunhos e políticas de reparação promovidas pelo estado brasileiro.
LORRAINE PINHEIRO MENDES
Graduada em Artes e Design pela UFJF (2012), tornou-se Mestra em História (2015) na mesma instituição, com dissertação sobre as cidades ideais do Renascimento. Foi professora substituta do Departamento de História e Teoria da Arte da Escola de Belas Artes da UFRJ entre 2019 e 2021, onde lecionou Cultura Brasileira, entre outras disciplinas. Atualmente é curadora na Pinacoteca de São Paulo e doutoranda em História e Crítica da Arte no PPGAV-UFRJ, onde desenvolve sua pesquisa sobre as representações do negro e da negritude na história da arte branco-brasileira e os projetos de Nação, realizando uma revisão do arquivo de imagens que formam a ideia de Brasil a partir da poética negra contemporânea.
MARCOS NAPOLITANO
Doutor (1999) e mestre (1994) em História Social pela Universidade de São Paulo, onde também graduou-se em História (1985). Foi professor no Departamento de História da Universidade Federal do Paraná (Curitiba), entre 1994 e 2004,e professor visitante do Instituto de Altos Estudos da América Latina (IHEAL) da Universidade de Paris III (2009). Atualmente, é professor de História do Brasil Independente e docente-orientador no Programa de História Social da USP. É assessor ad-hoc da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do CNPq. Especialista no período do Brasil Republicano, com ênfase no regime militar, e na área de história da cultura, com ênfase nas relações entre história e música popular e história e cinema. Também possui experiência na formação de professores do ensino básico, com foco no uso do audiovisual na escola.
POLLYANA QUINTELLA
Pollyana Quintella é curadora e pesquisadora independente e curadora da Pinacoteca de São Paulo. Formada em História da Arte pela UFRJ (2015), é mestre em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ (2018), com pesquisa sobre o crítico Mário Pedrosa. Colaborou com pesquisa e assistência de curadoria para o Museu de Arte do Rio (MAR), entre 2018 e 2020. Leciona cursos livres sobre arte brasileira no Paço Imperial e colabora com diversos periódicos de cultura como Revista Select, a Revista Continente, Revista ZUM, Folha de São Paulo, entre outros. Na pesquisa, tem interesse nas relações entre poesia e artes visuais, e a construção da história da arte brasileira moderna e contemporânea.
YURI QUEVEDO
Yuri Quevedo é curador responsável pelo acervo da Pinacoteca de São Paulo e, atualmente, encarregado da curadoria da exposição de longa duração. Graduado em Arquitetura e Urbanismo na Escola da Cidade (2014), mestre na linha de pesquisa em História da Arte pela FAU-USP. Desde 2019, é professor de História da Arte na Escola da Cidade. Em 2023, foi co-curador das exposições “Antonio Obá: Revoada” e “Chão da Praça: obras contemporâneas do acervo da Pinacoteca” na Pina Contemporânea. Também foi co-curador de “Ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos” no MAM SP (2022). Curador da exposição “Pequenas Pedras Polidas: azulejaria no acervo Sesc e em outras coleções” (2022-2023). De 2009 a 2013 foi pesquisador no Acervo Flávio Império, onde colaborou com sua organização, digitalização e doação para o IEB-USP.
MAIS INFORMAÇÕES
A declaração de frequência será emitida após o término do curso. Participantes que obtiverem 75% de presença durante o curso, ou seja, logados no momento da transmissão do curso. O acesso aos vídeos das aulas do curso não será considerado na contagem de frequência.
A inscrição é pessoal e intransferível. Em caso de inscrição-presente, no momento da matrícula o pagante deve incluir os dados da pessoa convidada e informar a organização do curso sobre tal inscrição-presente, de modo a evitar possíveis equívocos de cadastro ou de compartilhamento dos conteúdos de estudo.
A utilização de meia-entrada é concedida a: estudantes, professores, pessoas com 60 anos ou mais e funcionários de instituições culturais (limite de até 5 funcionários de uma mesma instituição).
Materiais complementares como, bibliografia do curso, PDFs, links de vídeos indicados pelas professoras, serão compartilhados através de uma pasta virtual, gerenciada pelo professor e a coordenação do curso. O material ficará acessível por tempo limitado.
Pedidos de cancelamento ou transferência serão aceitos até a véspera de abertura do curso.
Pedidos de cancelamento ou transferência, enviados após início do curso, não serão considerados, visto a necessidade de organização das atividades.
O curso oferece interprete/tradução de Libras. Para audiodescrição será necessário a pessoa interessada solicitar por e-mail até 5 dias antes do inicio do curso.
Mais informações no site da Pinacoteca ou pelo e-mail cursos@pinacoteca.org.br.